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25.9.15

O Ator Idiota da Tragédia Romântica

Tudo vira um nó, tudo vira um só na imaginação e no pensamento. O resultado é sofrimento anunciado. Paixão sofrida. Um ator idiota.
Ele quer o Eu e Tu virando nós, e a realidade é o Ele observando e sofrendo, só, aos cantos. 
A pressa consome, o tempo destrói e a disposição tropeça com a indiferença na primeira esquina.  
A estranheza do oi forçado, a balada sem o par perfeito, você abalado por tudo o que foi feito.
Poderia ser sublime, mas não acontece, poderia ser fogo, mas não tem chama, poderia ter pele, mas não tem toque. Simplesmente não é. Ali, no caminho do improvável e do impossível, o mundo vira de ponta cabeça, derrubando todos os coadjuvantes daquele terrível e dramático cenário de mal gosto.
Julgamentos. Saia dessa, caia fora, esqueça. O canteiro está cheio de outras rosas. Mas as rosas, meu amigo, essas tem espinhos conhecidos: atacam sem perdão e te machucam, não porque querem, mas porque você se atreveu a colhê-las. E como é difícil não querer colher flores influenciado por aquilo que vem de dentro do peito desenhado por falsas expectativas...
Se fosse para seguir o roteiro e escolher, obviamente optaríamos pelo disponível, o que é alcançável, seguro, certeiro, indefeso: Mas parece que a vida é dada a dramas, sem finais e inícios óbvios, cheio de expectadores de canteiros alheios.
Como é difícil conjugar, quando o verbo é sentir mas o adjetivo é fracassado, quando a ação é beijar, querer, mas o sujeito da frase não é você.
Nesse limbo – localizado entre o céu de quem admira e o inferno de quem não dá a mínima - está lá você que não vive o doce da retribuição, nem o amargo do não, pois a indiferença não te larga e o silêncio é sua condenação.
É difícil saber como agir. Você sabe que é errado. Que não devia. Que tem que esperar passar, que tem que ir pescar, que tem de deixar rolar, que não tem de forçar, que tem que ir fazer o que deve ser feito. Sinta, sinto muito – sinta a sublime armardilha que você mesmo criou dentro de si, sinta o fardo de não ser você o protagonista que se dá bem no fim na história de ninguém. 
A vida é mesmo esse drama e, no final, é muito mais fácil ser mero expectador dela, se entregar à preguiça de não querer mais insistir, do que continuar como um mero ator idiota de uma tragédia romântica qualquer.

3.9.15

Deixe ela lá

Deixe ela lá, entre o dito e não dito, entre a certeza da dúvida e a dúvida da certeza.
Deixe ela lá, intocável, imortalizada, idealizada, imóvel, enraizada.
Deixe ela lá, no seu mais espetacular talk show no mudo.
Deixe ela lá, não estrague o milagre dessa conexão impossível.
Deixe ela lá, escondida, em secreto, no poço fundo do desejo.
Deixe ela lá, compreendida, fabulosa, perfeita,aprisionada no cativeiro das expectativas, da vontade e do fascínio.
Deixe ela lá, no ideal, no colorido, naquele mundo que só você criou com ela e para ela.
Deixe ela lá, no que não foi.
Deixe ela lá, ali não tem repreensão, castigo, censura ou julgamento.
Deixe ela lá, não a acorde, não acorde.
Deixe ela lá, tudo é mais fácil e bonito nesse pequeno universo paralelo. 
Deixe ela lá em meio a beleza das flores, em meio a poesias de sol se pondo.
Deixe ela lá, porque já não faz parte, porque já não há lugar, porque não há mais tempo, porque não há mais espaço. Porque não faz sentido, porque não há segurança.
Deixe ela lá, pela vontade de esquecer. Por dias de paz, por dias que simplesmente amanheçam.
Deixe ela lá, ali ela não te prende, ata ou congela.
Deixe ela lá, ali não tem nada instável, supérfluo, muitos talvez e tanto faz. Ali não tem nada mediano, incompleto e conformado.
Deixe ela lá. Ali tem jogos, apostas, diversão. Não tem sobriedade, equilíbrio ou razão.
Deixe ela lá, mergulhada na crença vã e da fé de que tudo vai dar certo.
Deixe ela lá, sem a cobertura da moral e dos bons costumes, do politicamente correto e da politicagem vazia.
Deixe ela lá, ali tem reciprocidade, tato, gosto do gostar.
Deixe ela lá, no limite da existência e da coerência.
Deixe ela lá. Seu mundo e o mundo dela dependem disso.

Deixe ela lá.

26.12.13

Quando os Olhos Pedem a Boca em Linguagem de Sinais

E você admira tudo aquilo que dá a ideia, mas não entrega. Você pensa maravilhas, divaga. Viaja, faz planos, anda de mãos dadas, cria um mundo platônico, passando as mãos pelos cabelos do desejo. 
Imagina dizer um monte de coisas, achando que o outro, telepaticamente, percebe suas emoções pelo seus olhos que brilham mais que de costume. Você passa a crer realmente que o outro tem tempo de reparar nisso, de reparar em você... 
Você fita lábios, ansiosa por uma palavra, uma piscada, um sorriso, um cumprimento. Mas o esperado jamais veio. E elogios dele, nunca ouviu. 
Você perambula pelo facebook, como carente sentimental ambulante. Vasculha fotos, se imagina nelas. É arquiteta de um mundo novo, de possibilidades, de um sonho. Os olhos funcionam, mas a fala nem tanto. Você não ouve mas também não fala. Esquece que a palavra têm também uma capacidade incrível de despertar a paixão no outro. Mas você nunca fala, você nunca ouve. Sempre pelos diversos motivos... 
Mas você ama em silêncio. Elogia por dentro o menos óbvio. Repara. Decora. Saberia dizer o que quase ninguém vê. Porque só quem gosta muito repara além do óbvio. Só quem celebra a presença do outro, enxerga de verdade – toda paixão começa nos detalhes. 
E depois que você se acostuma com a arte do esconde-esconde, ele vira vício. E seguindo a lei da ação e reação, quem não revela não é revelado. Você não age, passivamente apenas decora seu mundo particular. Inicia-se, então, esse processo mágico de viver no mundo platônico, a cada dia, suportando a vida no irreal, namorando aqueles detalhes que te apaixonam repetidamente no outro e – tua vida passa – e esse mundo fabuloso não lê seus olhos. Elogio não arranca pedaço, sinceridade não mata, reconhecer o especial faz parte da vida. 
Porque não falar nada é a coisa mais fácil do mundo. Enxergar beleza onde ninguém mais a enxerga, é talento de quem gosta, de quem vê além do óbvio. E é de pessoas assim que a gente se transformar ao se apaixonar na vida. 
No mais, temos a mania de economizar em palavras que tinham que ser ditas – tagarelas que somos, discursamos demais sobre o trivial e nos esquecemos de valorizar os detalhes lindos daquele ser que divagamos um dia ter ao nosso lado. Esquecemos de falar e de trazer para esse mundo, feito com carinho, amor, aquele que nos move. Olhos e bocas não falam o mesmo idioma.

1.10.13

Para Histórias Futuras, Rasgue os Textos do Passado

Gente que desafia a condição do tempo em busca de um amor. Gente que acredita que pode repetir o passado, que acalma a busca fazendo a simples regressão do passado para o presente. Gente que afirma que ao reprisar o passado, pode-se esperar um final distinto. Mas, basta a infelicidade bater a porta que o risco de se machucar lembra o que nunca se esqueceu. 
Gente iludida, que ao olhar para trás, ao que aconteceu de bom, comete o erro de supervalorizar ou de achar aquilo tudo imensamente belo. E por lá ficam presos, no mundo fantástico da fantasia. E nesse mundo enfeita o jardim com o pensamento de que se algo deu errado, é porque poderia ter feito diferente, deveria ter exercitado a paciência ou quem sabe ter agido com mais sabedoria. Gente que se depara controlando e mudando o passado, mas que só encontra em si mesmo o seu pior adversário. Porque tem dificuldade a qualquer ato que remonte a desmontagem de uma ilusão arquitetada ou mesmo a renegar a cegueira de um amor totalmente fantasiado. 
Gente que fica e preza as relações sem sentido, mas que ficam lá como se tudo bastasse, com se tudo um dia se ajeitasse, como se tudo pudesse ser pior. Gente que limpa da fantasia o desentendimento, rega a paciência e espera cultivar a estabilidade. Gente que finca os pés no passado e ao sinal de qualquer aviso para limpar o guarda-roupa, se livrar do velho, fazer andar a fila, procurar o novo e trocar, vive na memória do objeto, da maquiagem do passado, da perda da estabilidade, da escravidão da cultura e do próprio destino. 
E assim se dá cor à rotina. Cor de passado, cor de limitação, cor de ausência e da não reconstrução da vida. E nessa dificuldade de ter medo do próximo instante, não saímos de casa, não deixamos as portas abertas e o passado figura como fantasma, espantando o futuro. 
Fazemos do drama o sentido, da propriedade a certeza e, por mais que tentamos escapar da dúvida, deixamos o próximo passo sem imaginação. Tentamos se repetir no passado, nesse apego infundado, um cárcere profundo. Sem lembrar que são nossas histórias que devem continuar, e não os textos.

25.9.13

Procura-se Protagonistas para Biografias

Tá faltando alguém. Faltando alguém do teu lado que fique. Alguém que ature o teu gênio difícil e as tuas mancadas. Tá faltando alguém disposto a te fazer crescer e a crescer contigo. Alguém que venha quando você precise. Alguém que dentre todas as pessoas, te escolha. Alguém que realmente precise de ti. 
Tá faltando alguém que tire seu passado do presente. Alguém que tire todo o ódio, mágoa, remorso, frustração  decepção e culpa.  Tá faltando alguém que te liberte dos seus fantasmas. Tá faltando alguém que não te impeça de viver o presente. Alguém que não te faça dormir com o inimigo.
Tá faltando alguém que não gaste sua alegria, suas energias. Tá faltando alguém que não seja o já era. Tá faltando alguém que te realize, que não te leve para conhecer pessoas que não goste, que não te leve para ambientes que te faz mal. 
Tá faltando alguém que não rife seu coração, alguém que lhe dê seu real valor. Tá faltando alguém que não seja coadjuvante de sua história, que não esgote a sua auto-estima. Tá faltando alguém que não faça o que não concorda, que não estrague sua paz, que não amarre sua alma. 
Tá faltando alguém que te impeça de ficar em círculos, correndo atrás da esperança de um novo ele. Alguém que não te faça abrir mão dos seus sonhos, que saiba priorizar o quanto você é importante. Tá faltando alguém que não jogue fora o seu tempo...
Tá faltando alguém que goste de você de verdade! 
Tá faltando alguém que faça parte fundamental de sua biografia.


30.4.13

Amor é Voo Particular de Uma Borboleta

Amor é nosso terceiro pedido. Nossa imortalidade. 
É estar uma vez em vida, com muita sorte, com a certeza de alguém com quem dividir a vida. Esquecendo o tempo antes dela, se preocupando com o tempo após ela. 
É mosaico de euforia, dúvidas, certezas, felicidade, medo, carinho, cumplicidade e empatia. São anos com dias doloridos, mas com horas piores sem o outro. É trocar de pele, sair da casca, virar borboleta. 
Amar é atravessar algo além da própria experiência, sem conhecimento para consertar. É não julgar. É escolher sabendo dos riscos, dando em troca respeito. É ser leitor assíduo, neutro, ansioso para permanecer até o final da história. 
Amantes existem para salvar uns aos outros de si mesmo. E destino é a ponte que se constrói até a pessoa amada. 
Amar é não se ver de novo. É estar andando e sentindo uma certa presença ao lado, onde quer que se esteja. Amor é fusão, construção, evolução, liberdade, crescimento, individualidade. Mesmo quando o destino precisa se cumprir, amantes estão prontos para ajuda-lo a não fazer isso sozinho. 
Amor não tem a ver com palavras soltas, melosas, ditas para todos os lados e em todos os murais para todo mundo ver. Não tem a ver com fotinhas coloridas cheia de filtros modernos e poses combinadas. Não tem a ver com beijos programados, dividir sorvete, fazer faixas para sobrevoar estádios, fazer pedidos em telões, escrever palavras gigantescas no céu. 
Amor não é faz de conta, sonho colorido ou irrealidades. Amor é realidade, praticado por tolos em processo de reações químicas. Amor é um grande gesto, feito no silêncio, na dedicação exclusiva do dia-a-dia, na luta constante contra a rotina, nas decisões e certezas tomadas longe dos olhos viciados de outros. 
Amor é ir além das forças, ainda que machuque. É liberar sentimentos escondidos. É mistério. Dedicação. Entrega. Servidão. Perdão. Descoberta. Libertação. Voo particular. 
Amor é achar dentro de si uma coragem que nem sabia existir. É saber que chegamos ao mundo sozinhos, e saíremos exatamente do mesmo modo, mas deixando uma história particular para trás. Deixando lembranças incríveis que não se esquecem. 
Amor não segue regras, costumes, tradição ou fantasia. 
Amor é impressão digital, nunca haverá dois iguais. Por que não somos todos iguais, não permanecemos iguais, não amamos de forma igual e os tempos não são iguais. Às vezes, o mundo distorce nossa percepção do que é, e perde-se uma vida inteira, deixando de ser, para se descobrir isso...

5.3.13

Ensaios de Não na Vontade do Sim

Não seja tão amigável. Não mande mensagens inesperadas. Não fale de sentimentos quando alguém falar de desejo. Não olhe fundo nos olhos. Não pegue na mão com malícia. Não prometa carinhos. Não prometa o que não podem existir. Não convide para sair. Não repare nos detalhes. Não olhe para a boca. Não crie expectativas para não criar necessidades. Não dê a entender mais do que poderá dar. Não beije enquanto toca uma música. Não sorria quando alguém fala de saudade. Não fale de saudade. Não se engane que precisa e que quer de novo e breve. Não compartilhe silêncios. Não permita que aflore. Não permita sentir essências de repente. Não se perca. Não responda de imediato as mensagens. Não responda tudo perguntarem. Não se deixe sem palavras. Não diga que é diferente. Não diga "pra sempre". Não acredite tanto em você. Não seja tudo que alguém sempre quis. Evite rimas entre o primeiro contato e a realidade. Não dê atenção às palavras que insistem em te sussurrar no ouvido. Não crie esbarrões para roubar carinhos. Não leia ou faça poesias. Escape de beijos, gostos e declarações que você nunca fez. Mas não fuja em vão. Suspiros dão a entender qualquer coisa que não seja. Faça bilhetes nunca entregues... Desconsidere o tempo, e engula a inspiração sem gelo. 

15.2.13

Limitação Pós Momentos Especiais


Quanto tempo terá perdido com seus cafés? 
Não falo exatamente do tempo em que toma café e faz qualquer outra coisa junto, mas do tempo em que saiu para isso. 
Naquele tempo que permaneceu na solidão de segurar a xícara. Apenas café. Distraindo-se, quem sabe, com algum quadro, paisagem, alguma foto, alguma janela, alguma rachadura ou mancha na parede. Ou pensamento fixo – no trabalho que não sai, no fim de semana que não chega, no passado que não se esquece, no tempo que não passa, na saudade que não passa. Ou na morte que não vem. Quanto tempo terá perdido com seus cafés? Nunca muito tempo... Mas muito mais tempo desde que aquele momento especial foi embora. 
Todas as coisas mudam. O teu esforço para permanecer como está é aquilo que te limita.

13.1.13

Renascer é Percorrer o Caminho em Busca do Oceano

Para todo problema complexo, aquele sem precedentes, interno, pessoal, sempre existe uma solução simples, elegante, fácil e completamente errada. Nesses momentos, nas encruzilhadas da vida, escolhas precisam ser feitas. 
O caminho correto é solitário, frio, escuro, úmido, complicado, estreito, difícil. E às vezes basta um olhar. Sem intenção, sem objetivos para se abrir um lado largo, convidativo, bonito, florido, acompanhado. Apenas uma mera fantasia para se abrir um grande buraco que te arrasta, suga, puxa, engole. 
Para todo problema complexo existe uma armadilha que depende exclusivamente de você para funcionar. Só se fica preso quando quiser de fato. Todo sofrimento, lágrima e desespero é encenação, ao mesmo tempo que não é. 
É caminhar do lado errado, gritando por ter caído na armadilha, gritando alto para não ouvir a si mesmo e perceber que só se está ali porque quer. E vamos batendo muitas fotos, na esperança de que em uma delas fiquemos apresentáveis. Distribuímos imagens ao longo do caminho, sabendo que voltar é difícil, por vezes impossível! 
A vida é mágica, mas nenhuma magia vai produzir efeitos ao contrário da sua vontade. E isso é o que há de tão fantástico e assustador no livre-arbítrio: sempre há uma escolha! Decidir no meio de dois caminhos significa que, não importa o que aconteça à sua volta, você sempre será um ser livre. Mas você nunca poderá culpar os deuses, o destino, a pobreza, os amigos, a família, a sociedade, seu corpo ou seus traumas pelo que você faz. É tudo com você! 
Escolher o difícil é saber que sempre existirá outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outros amores. E outras possibilidades. E outras pessoas. E outros mundos. E outras cidades. E outras coisas... Viver é coisa séria! Não é imaginação, final de semana, irresponsabilidade. Existir não é carência, aleatoriedade, plantar e negar colheita. Mas como são belas aquelas imagens... 
‘Somos gotas. Formamos um rio que tem medo de cair no mar. Percorremos todos juntos uma jornada, todo o caminho complexo, sinuoso, difícil e quando olhamos à nossa frente, encontramos algo tão grande e azul que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Pode-se apenas ir em frente. E é somente quando entramos no oceano é que o medo desaparece. Descobrimos que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano. Escolher certo por um lado poder ser desaparecimento; por outro, renascimento.’

7.9.12

Não Existe Vida sem Engano

O assassinato do protagonista dos sonhos nos faz andar de mãos dadas com a culpa, vestidos de sentimentos baratos e ordinários. Pois cansamos de lutar contra e em busca de qualquer coisa. 
Do protagonista ficarão apenas recordações de momentos rápidos, intensos e sem valor. Felicidade barata com hora marcada e fim determinado. Afinal, tudo tem começo meio e fim, tudo tem prazo de validade. 
O sonho acabou. Histórias longas, de emoções curtas. 
A culpa então cochicha... Ensina que felicidade é ponto de vista, é o ângulo perfeito do momento que não se repete. Felicidade é um ato, senti-la é um fato.
Cometemos um crime, ignorando todas as ponderações da razão. Dispensamos tempo, sentimentos, loucuras, pensamentos e medos. Tomamos risco. Nos tornamos especialistas. Não tivemos medo de errar e nem de perder. 
Mesmo de pés atados, sempre corremos atrás do desejo, tentando ser feliz, tentando descobrir. Descobrir novos gostos. Desejando tudo a troco de nada. Sentindo que na vida, tudo que é relevante é bom e ruim na mesma intensidade. 
E a partir desse crime, a cada dia que acordarmos, será um dia a mais acordados ao lado da culpa. Até que um dia ela tire, de vez, a vontade e a saudade, o desejo e o rancor, a verdade e a mentira. 
Não existe vida sem engano.

13.5.12

Quando a Escrita Encontra a Vontade

Aquela vontade de nunca mais escrever. Aquele sentimento de ter a vida sem palavras por perto.
Desejando os pensamentos que os olhos não podem ver. Ao mesmo instante que o coração passa a olhar com mais intensidade e os olhos passam a sentir coisas antes inimagináveis.
Parece incrível, mas tem um momento que um dia te alcança, aquele em que já não se acredita em mais nada. É se conformar, quando já não se acredita no que se vê, no que se sente, no que se desenha.
É ter certaza que é fundamental e é mesmo indispensável aprender a ser feliz sozinho. E que o mundo está estranho e cheio de pessoas estranhas. Palavras..., saudades, e aquilo que não aguentamos é o que gruda em nós, suja todo o papel.
Nessa vida é fácil deprimir, pois todo mundo nos dá um monte de razões, e é fácil mergulhar na tristeza. Mas não queríamos ser tristes, queríamos ser feliz realizando as palavras. Mudando tudo!
Queríamos um dia apenas, para provar que as palavras poderiam ser verdadeiras, e continuar mostrando para todo mundo a alegria que é quando a escrita encontra a vontade. Mas desistimos de escrever!
Ninguém se importa se estamos todos afobados a ponto de entregar nossas confissões e confusões ao mesmo tempo que desenhamos monstros. E a vida passa depressa. Escrita em linhas tortas...
Vai passar! Pois os dias são breves, e também breve é a ilusão da perfeição e da espera.
Aprendemos com o tempo que só nos braços de alguém é que as palavras podem nos fazer felizes. E a realidade é que essa não é a realidade. E se ao menos pudéssemos escrever o que dizem os nossos olhos...
Por isso desistimos de escrever. Vamos deixar esse vazio sozinho em si mesmo, completo, profundo, total. Um texto que não foi passado a limpo e que não possui um final. Palavras sem leitores.
Vilões e mocinhos em nossas biografias romanceadas, de nossos diários escancarados de monstros escondidos.

17.3.12

Quando o Perfeito não Comporta, o Erro Preenche

Aquela vontade de nunca mais escrever. Aquele sentimento de ter a vida sem palavras por perto.
Desejando os pensamentos que os olhos não podem ver. Ao mesmo instante que o coração passa a olhar com mais intensidade e os olhos passam a sentir coisas antes inimagináveis.
Parece incrível, mas tem um momento que um dia te alcança, aquele em que já não se acredita em mais nada. É se conformar, quando já não se acredita no que se vê, no que se sente, no que se desenha.
É ter certaza que é fundamental e é mesmo indispensável aprender a ser feliz sozinho. E que o mundo está estranho e cheio de pessoas estranhas. Palavras..., saudades, e aquilo que não aguentamos é o que gruda em nós, suja todo o papel.
Nessa vida é fácil deprimir, pois todo mundo nos dá um monte de razões, e é fácil mergulhar na tristeza. Mas não queríamos ser tristes, queríamos ser feliz realizando as palavras. Mudando tudo!
Queríamos um dia apenas, para provar que as palavras poderiam ser verdadeiras, e continuar mostrando para todo mundo a alegria que é quando a escrita encontra a vontade. Mas desistimos de escrever!
Ninguém se importa se estamos todos afobados a ponto de entregar nossas confissões e confusões ao mesmo tempo que desenhamos monstros. E a vida passa depressa. Escrita em linhas tortas...
Vai passar! Pois os dias são breves, e também breve é a ilusão da perfeição e da espera.
Aprendemos com o tempo que só nos braços de alguém é que as palavras podem nos fazer felizes. E a realidade é que essa não é a realidade. E se ao menos pudéssemos escrever o que dizem os nossos olhos...
Por isso desistimos de escrever. Vamos deixar esse vazio sozinho em si mesmo, completo, profundo, total. Um texto que não foi passado a limpo e que não possui um final. Palavras sem leitores.
Vilões e mocinhos em nossas biografias romanceadas, de nossos diários escancarados de monstros escondidos.

21.1.12

Escorregador Infinito da Dúvida

Olhar para arrancar pedaços. Aceitar esse momento mágico e indescritível. Ser por um momento insubstituível na vida de alguém. Tapar os ouvidos para a proibição do impossível sem critério e fazer a melodia do improvável incomum.
Mas não era talvez na semana que vem, era para ontem. E ontem já foi tarde demais. Não era para depois, pois depois não daria mais tempo. E hoje já não faz mais sentido...
Hoje é o dito pelo não dito. Velório do desejo no caixão da escolha errada.
Dia após dia vestido de preto e de olhos e corações fechados. Porque dói se mostrar e não ser notado. Porque dá medo ter sido e não ser... Escorregar no infinito da dúvida.
Desligue a ligação consigo mesmo na própria cara. Chega de conversa. A linha está ocupada pelo súbito desinteresse... Filho da decepção com o esquecimento.
A coisa certa na hora errada sempre vai ser a coisa errada.

3.1.12

Apreciar a Cereja das Entrelinhas

Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Um verme? Uma dúvida saudosa. Resistente. Altamente contagiosa. Uma vez que uma dúvida toma conta é quase impossível de eliminar. Uma dúvida formada, totalmente incompreendida, permanece em algum lugar aí dentro.
A dúvida pode se tornar saudade. Aí é como começar a jogar, numa mesa sem dinheiro e com cartas ruins, só para ser cumprimentado e estar à vista do público. Uma onda de fingimento. Fingir que se luta dando golpes sem direção. Fingir que pegou o melhor peixe. Fingir sentar nos sofás alheios e fazer parte de famílias. Fingir a felicidade ao comer, beber. Fingir ter uma vida boa regada a festas e muita distração.
Amor incompleto, beleza e afinidade não saciam fome. Duram algumas horas, mas chega o momento, perto da madrugada, que você vai querer ir até a geladeria.
Amor é sentir um certo peso que põe fim a falta de limite e te prenda ao chão. Duvidar é quando começa certo. Amor é quando começa errado, para no final ter o prazer mútuo da conquista e da vitória que é um relacionamento entre pessoas diferente.
Precisamos de menos regras ditadas – e mais pontos de vista ouvidos. Apreciar a cereja das entrelinhas. O bolo da vida é apenas detalhe.
Amar e olhar de verdade, aceitar e gostar do que se vê. Valorizar o que se reconhece.
Amor não reprime, provoca. Mostra o escondido. Mostra caminho, não impõe trajetória.
Dúvida é estar longe. Para amar não precisa estar junto, basta estar do lado de dentro. Essencial são os pontos de vista trocados.
Confunde-se muito insistência com merecimento. Desejo com disponibilidade. Erro com circunstância. Distância com saudade. Vida com prazer. Afeto com pena. Afinidade com amor. Dúvida com infelicidade. Fácil é mentir para todo mundo o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos decepcionamos com o que achávamos ter visto.

25.12.11

Expectativa Criada é Ferimento com Agulha

Costurando trapos. Lembrando dos dias doces, das atitudes inesperadas, de sentimentos.
Tornando-se especialista na arte dos remendos. Pois um dia alguém olhou fundo, mergulhou retina adentro, e só não caiu por que segurou nossa mão com firmeza. Deslizou os dedos entre os nossos, um dia fez uma medição de mãos.
Juntando retalhos. Querendo de volta carinhos cúmplices, o estar pertinho, o esbarrão intencional, o sentar do lado, as juras que não podiam ter existido. Querer os convites para jantares que nunca aconteceram, festas, chegadas e partidas. Um simples café da manhã que nunca teve.
Balançando o pó. Reparando na imagem congelada dos detalhes, expressões, sorrisos e medos que se passaram. A fotocópia da expectativa criada é a necessidade.
Bordando assuntos. Um dia alguém lhe deu mais a entender do que poderia te dar. Um beijo que marcou uma música. Uma decepção que marcou pra sempre a vida. Matando sorrisos quando se lembra da saudade, sentindo o gosto das lágrimas onde o amor se afogou. Uma frase que nunca virá, uma vontade que se foi a muito. Diz que não precisa e que não quer de novo, muito menos logo. Nos tornamos um molde para uma peça que ficou só na imaginação.
Fazendo o ponto do silêncio. Longo, dolorido, irreal, destruidor. Amor ferido pela paixão branca, que rasga fundo. Não respondendo mensagens, não respondendo perguntas, não dizendo mais uma única palavra que lhe interessaria. Uma linha frágil. Não foi para sempre. Não era para acreditar tanto. Não era para ser exatamente como se imaginou. Não era para ser tudo o que sempre quisemos.
Costurando trapos. O gosto empoeirado de pensar em alguém e não deixar que saiba isso. A falta de ar momentânea, a dificuldade que não agüentamos mais. Então, baixinho, recortamos o pensar, o de lembrar e tiramos dos olhos. Mas o pano velho nos lembra todo dia. Cheio de pó e esperança, fica lá, no canto, o símbolo de que lembramos todo dia de quem fez questão de nos esquecer. Guarde-o e não fique mais torcendo para que algo incrível aconteça, algo não planejado, algo arranjado por forças maiores. Isso é ferimento com agulha, só decepção. Não era sua vez e não era a hora de alguém. E agora o tempo passou.
Tem dias em que a gente deve acordar e simplesmente entregar a agulha para que o esquecimento vá costurando os anos.

15.12.11

Rascunho de Amor com Rodapé de Mágoa

Às vezes se encontra o mapa do paraíso. Mas alguém te faz naufragar pelo caminho.
Às vezes um pequeno passo é que junta duas pessoas. Mas são pequenos movimentos que te fazem desacreditar.
Às vezes você conhece uma pessoa. Por essa pessoa você decidiria ficar até amanhecer. Só para fazer com que aquele hoje durasse mais. Só para repetir todas aquelas coisas que davam frio na barriga, que te deixavam nervoso, que eram inesperadas, que coloriram a vida, que te despertavam para o que você é. Mas ela não te dá esse tempo...
Por ela você ficaria amanhã também. E depois, e depois. Mas não pode. É só vontade.
Por ela você se perguntaria muitas vezes: “O que é que eu estou fazendo?”.
Às vezes você perde os seus sentidos. E recobrar a lucidez é mergulhar de cabeça na decepção. E aqui estamos. Nessa leitura estamos. Reconhecendo-nos. Lembrando. Culpando-nos da entrega?
Duvidar é ter a certeza de que muitas outras coisas não foram mencionadas. Mas você sabe... Por mais que foi, não foi. Por mais intenso que era, se apagou. Por mais verdadeiro que parecia, era falso. Por mais feliz que fosse, era ilusão. Por mais amor que sentiu, era decepção.
Às vezes, se pudéssemos ficar, ficaríamos. Um pouquinho mais, o suficiente pra enjoar e fingir que nem foi. Mas não tem como. Às vezes não dá tempo. Somos todos julgados e nos julgamos pelas decisões que fazemos e não pelas decisões que poderíamos ter feito. Quanta injustiça! O que era, foi!
Maldito círculo vicioso da tentativa imbecil de enganar a vontade e a verdade. Na tentativa fracassada de achar que fazemos as coisas do jeito certo. Às vezes dizemos que a pessoa era certa na hora errada. Inevitável.
Por uma pessoa você adiaria o sono só para guardar o gosto. Guardaria a roupa só para relembrar uma emoção. Esconderia um desejo para evitar o pior depois. Não magoaria.
Às vezes você não admite que as coisas vão continuar exatamente como estão. Você vicia nessa dor que não tem data e nem hora marcada pra acabar. As coisas vão continuar. Exatamente do jeito que essa pessoa um dia te deixou. Sentado à margem de uma fonte de mágoas, tristezas, justificativas e desconsolação.
Uma pessoa. Capaz de te deixar com uma história em mãos. Toda em branco. Preso em páginas em branco com uma caneta sem carga. Um livro secreto com a decepção no rodapé. Apenas lembranças de nada completo. São como os rascunhos que permanecerão na mesa. Porque pela primeira vez você sente que não preciso mais jogá-los fora…
E assim sua vida se vai. Por que você vive evitando o amanhã. Porque sabe que seu dia seguinte é sempre um nunca mais.

10.12.11

Se Apaixonar é Tirar uma Impressão Digital da Vida

E você na eterna busca por alguém cujas qualidades combinam com as suas. Nunca fazendo a correta procura de quem cujos defeitos se encaixam nos seus.
Rodeada de protagonistas, não percebe que às vezes os figurantes podem ser mais interessantes do que pode imaginar.
E lá no fundo continua fazendo de tudo para chamar a atenção de alguém. Diz onde está, o que está fazendo, compartilha fotos, diz o que onde vai almoçar, viaja para milhares de lugares, diz com quem anda, só para no fim ver se esse alguém te nota de alguma forma. Já pensou nisso? Que chega um momento da vida, onde você se apaixona, e tudo o que passa a acontecer na sua vida é para ver se outro alguém te nota?
Se apaixonar é tirar uma impressão digital da vida. É único, particular e pessoal. Somos todos bobos em potencial.
Você passa a falar um monte de coisas fúties para o nada, para ver ser esse alguém te nota. Somos todos idiotas mesmo. Mas uma hora isso passa. Passa por um tempo. 
Você muda de objeto, um outro alguém, e continua tudo a mesma coisa, mas para outra pessoa te notar. É onde tudo recomeça. Tudo recomeça aí, pode ser hoje, pode ser amanhã. E logo depois termina de novo.
Uma vida encontrando e reencontrando passatempos. Tudo é passatempo. A vida passa, objetos mudam. Mas não se preocupe, não tema o destino, porque um dia alguém vai ser o seu destino. Vai cruzar seu caminho, vai reduzir a taxa do seu sofrimento.
Não queira abraçar o mundo inteiro, por mais belo que seja, porque um dia alguém vai ser o seu mundo particular, sua verdade, sua construção, seu refino, sua transformação.

“Que você me olhasse e não soubesse o que falar.
Que você me abraçasse sem querer soltar.
Que você me amasse…”

Vai surgir alguém cujas deficiências serão suas soluções, que te apoiará a superar seus obstáculos com saídas inusitadas. Que tornará tudo simples, que mostrará que um modo todo diferente e peculiar de viver definem mais do que apenas capacidades.
Esse alguém vai surgir, e a questão nunca será quando, mas sim o que você vai fazer a partir disso.
Muitas vezes o desejo simplesmente adormece atrás das janelas.

10.11.11

A Desilusão do Tchau Sentido

Que isso! Obrigado nós. Nos desiludimos.
Porque já não fazemos parte, porque não tivemos um lugar importante. Nos desiludimos.
Porque a espera não compensa mais, porque a esperança era muito leve e voou...
Desiludimos porque não demos tempo necessário ao tempo, porque não tem mais espaço. Não tem mais sentido, não tem mais sentimento. Não sentimos.
E assim nos decepcionamos. Pelas palavras ouvidas, as atitudes e pela indiferença sentida. Desiludimos na vontade de seguir em frente, pela vontade de esquecer. Pelo amor que se teve, pelo amor que se tem, pelo o amor que não se sentiu.
Dormimos abraçados com a desilusão nas noites que não passavam e nos dias que demoravam anoitecer. Pelas vontades e pelos riscos.
Palavras construiram a mágoa, destruíram o que poderia ter sido. Surpresas decepcionantes de um coração falso. Nos decepcionamos por que não valeu. Porque foi de mentirinha. Por que era brincadeira de adolescente. Era imaturo e não desenvolveu.
Nos desiludimos para escapar daquilo que nos prendia, amarrava e congelava. Para nos libertarmos.
Se desiluda então. Amor não é aperto de mãos, beijinhos e promessas. Não é provar e não gostar. Não é deixar de lado para esfriar e levar embora depois. Desiluda-se!
Desiludimos daquela figura insegura, instável e supérflua. Que nos disse uma vez que tanto fez como tanto faz. Desiludimos do mediano, do morno, do incompleto e do conformado. Decepcionamos de uma vida rascunhada pela opinião alheia. De um jogo em que nosso coração foi apostado. Numa mesa com café fraco e cartas de indiferença. Fomos trocados, não valorizados, postos de lado, trocados por qualquer coisa e qualquer um. Desiludimos porque ninguém lê o que escrevemos, ninguém se importa com a carta feita, com o choro nas canções que ouvimos, pela falta de prazer e pela ameaça de buscar uma vida melhor em busca de um amor de verdade.
Arrependimentos pela falta de sobriedade e de razão nos desiludimos por algo que um dia foi forte. Sem trégua com o equilíbrio e com vontade de chorar.
Decepcionar é esquecer das mãos que não foram dadas. Desistimos, não vamos mais nos iludir. Não mais. Dane-se a felicidade. Aconteceu quando tinha de acontecer. Por que esperar pelo dia mais feliz da nossa vida? Quem nos garante que ele já não passou? Dane-se a perfeição. Nos desiludimos quando ela não bastou.
Desilusão com obrigações, convicções, crenças, idealismo, paixão, amor, maldade e rancor do escondido. Politicagem vazia. Chega de promessas que fazemos a nós mesmos e nunca somos fiéis. É a fidelidade que deve ser explicada.
Chega de perdão, desculpas e despedidas. Não tem mais onde caber tanta mesquinharia.
Chega de momentos perdidos, de enxergar o óbvio que não somos amados da forma como merecemos. Desiluda-se com flores, poesias, pôr do sol. Adeque-se ao que lhe dão em troca. Ofereça existência e coerência. Permita o gostar de si mesmo. Um dia acaba reciprocidade do tato.
Um dia alguém lhe diz um tchau sem importância. O pior tchau nunca é aquele que foi ouvido hoje, mas o que já por algum tempo foi sentido.

14.10.11

Ninguém sabe Lidar quando o Outro não Sabe

Você cuidou. O outro não.
No seu ponto de vista, cuidar tinha muitos significados. Não era só preservar, deixar bonito, não gastar. Para você era um acordo de reciprocidade, de que aquilo nunca acabaria.
Você aguentou a saudade que o outro não tinha, acreditou em sorrisos e palavras doces, mas estes eram só o espelho da despedida. O outro foi.
Você cuidou com o que prometia. O outro não. Evitou dizer coisas, porque tudo o que é muito combinado, planejado e muito definitivo, perde a sua graça e deixa de lado a naturalidade.
Você cobrou. O outro não. Tiveram discussões. Procurou-se motivos que não existiam. O outro deu explicações que não precisava. E todo aquele sonho, aquela música, aquela poesia, feitos sob a mais forte influência da paixão, esses não existem mais. Não tem mais porque só você cuidou. E se quebrou na partida.
Quando quebra, perde o encanto. Fica feio, estranho, deformado, estragado e rejeitado. Repulsa e fuga! 
Você cuidou porque era frágil, suave. Mas hoje está quebrado, trincado em pequenos e perdidos pedaços. Colar não vale o esforço. Rachaduras não somem, apenas mostram a realidade do erro.
O outro não percebeu que era leve. Fez pouco caso. E você ficava reclamando da saudade fazendo piadas com a ausência e curtindo cada reencontro...
Ninguém sabe lidar quando o outro não sabe. O problema é que nunca achamos que precisamos saber e muito menos achamos que o outro deve saber. Cada um para um lado. Cada pedaço ao seu lugar. E hoje ninguém cuida mais da saudade.
Ninguém disposto a se permitir cuidar de alguém e proteger se for preciso. Todos procurando alguma química, que existe, mas um dia acaba em cacos.
Foi enquanto se teve, iria continuar sendo, caso estivesse...
Você cuidou. Era bonito. Era teu. Espatifou.

7.9.11

Romeu e Julieta

— Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.
— Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?
— Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
— Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu.
— Quem és tu que, encoberto pela noite, entras em meu segredo?
— Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria.