3.9.15

Deixe ela lá

Deixe ela lá, entre o dito e não dito, entre a certeza da dúvida e a dúvida da certeza.
Deixe ela lá, intocável, imortalizada, idealizada, imóvel, enraizada.
Deixe ela lá, no seu mais espetacular talk show no mudo.
Deixe ela lá, não estrague o milagre dessa conexão impossível.
Deixe ela lá, escondida, em secreto, no poço fundo do desejo.
Deixe ela lá, compreendida, fabulosa, perfeita,aprisionada no cativeiro das expectativas, da vontade e do fascínio.
Deixe ela lá, no ideal, no colorido, naquele mundo que só você criou com ela e para ela.
Deixe ela lá, no que não foi.
Deixe ela lá, ali não tem repreensão, castigo, censura ou julgamento.
Deixe ela lá, não a acorde, não acorde.
Deixe ela lá, tudo é mais fácil e bonito nesse pequeno universo paralelo. 
Deixe ela lá em meio a beleza das flores, em meio a poesias de sol se pondo.
Deixe ela lá, porque já não faz parte, porque já não há lugar, porque não há mais tempo, porque não há mais espaço. Porque não faz sentido, porque não há segurança.
Deixe ela lá, pela vontade de esquecer. Por dias de paz, por dias que simplesmente amanheçam.
Deixe ela lá, ali ela não te prende, ata ou congela.
Deixe ela lá, ali não tem nada instável, supérfluo, muitos talvez e tanto faz. Ali não tem nada mediano, incompleto e conformado.
Deixe ela lá. Ali tem jogos, apostas, diversão. Não tem sobriedade, equilíbrio ou razão.
Deixe ela lá, mergulhada na crença vã e da fé de que tudo vai dar certo.
Deixe ela lá, sem a cobertura da moral e dos bons costumes, do politicamente correto e da politicagem vazia.
Deixe ela lá, ali tem reciprocidade, tato, gosto do gostar.
Deixe ela lá, no limite da existência e da coerência.
Deixe ela lá. Seu mundo e o mundo dela dependem disso.

Deixe ela lá.

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