3.1.12

Apreciar a Cereja das Entrelinhas

Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Um verme? Uma dúvida saudosa. Resistente. Altamente contagiosa. Uma vez que uma dúvida toma conta é quase impossível de eliminar. Uma dúvida formada, totalmente incompreendida, permanece em algum lugar aí dentro.
A dúvida pode se tornar saudade. Aí é como começar a jogar, numa mesa sem dinheiro e com cartas ruins, só para ser cumprimentado e estar à vista do público. Uma onda de fingimento. Fingir que se luta dando golpes sem direção. Fingir que pegou o melhor peixe. Fingir sentar nos sofás alheios e fazer parte de famílias. Fingir a felicidade ao comer, beber. Fingir ter uma vida boa regada a festas e muita distração.
Amor incompleto, beleza e afinidade não saciam fome. Duram algumas horas, mas chega o momento, perto da madrugada, que você vai querer ir até a geladeria.
Amor é sentir um certo peso que põe fim a falta de limite e te prenda ao chão. Duvidar é quando começa certo. Amor é quando começa errado, para no final ter o prazer mútuo da conquista e da vitória que é um relacionamento entre pessoas diferente.
Precisamos de menos regras ditadas – e mais pontos de vista ouvidos. Apreciar a cereja das entrelinhas. O bolo da vida é apenas detalhe.
Amar e olhar de verdade, aceitar e gostar do que se vê. Valorizar o que se reconhece.
Amor não reprime, provoca. Mostra o escondido. Mostra caminho, não impõe trajetória.
Dúvida é estar longe. Para amar não precisa estar junto, basta estar do lado de dentro. Essencial são os pontos de vista trocados.
Confunde-se muito insistência com merecimento. Desejo com disponibilidade. Erro com circunstância. Distância com saudade. Vida com prazer. Afeto com pena. Afinidade com amor. Dúvida com infelicidade. Fácil é mentir para todo mundo o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos decepcionamos com o que achávamos ter visto.

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