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24.1.17

A Matéria Escura que Preenche a Realidade

A escuridão toma conta. São reflexos e reações de densos e pesados pensamentos. Alimentando sentimentos.
De repente ela está lá! Matéria escura, moldada em coisas ditas, sentidas, feitas e não feitas para você. 
De pouco em pouco ela envolve, perturba. E por mais que você procure seguir adiante, engolindo tudo goela abaixo, é pior, pois aí ela te preenche.
Trevas. Dia a dia, resultando em trevas. Uma análise fria dos fatos, dos anos, das escolhas, do caminho.
Nossa vida se torna uma grande penumbra. Existimos, mas não existimos. Somos, mas ninguém vê. Fazemos, mas estamos camuflados.
Escuro. Tudo aquilo que usávamos para iluminar já não é suficiente, não basta, não resolve, não serve mais. Fazemos perguntas, e uma a uma elas se apagam.
Nos movendo sem enxergar, de mãos dadas com a “ingratidão” e abraçado com o “não faz mais que a obrigação”, a gente tropeça e não sai do lugar.
Matéria escura, que faz calar, nos faz silenciar grupos, nos faz tirar o som das notificações, nos faz não querer mais responder, nos faz não querer mais estar a disposição de quem pinta nossos dias, nossa vida, nosso sonho, nossa essência de preto.
Preenchidos de escuridão, sufocados, está difícil demais respirar. Apagaram nossa luz. E a gente é uma mistura de "desistência" com "seguir adiante", esperando alguém ou algo disposto a nos ver, a se importar, disposto a atravessar as sombras para nos encontrar.

10.11.16

Viva os Abalos que não Tornam a Vida Linear

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E a gente não para de sentir, nunca paramos, é impossível depois de certo tempo. É automático, é o efeito da droga mais potente e destrutiva que já existiu, morremos mil vezes, reduzidos a nada sempre, e acabamos gostando cada vez mais disso. 
Totalmente abstinentes de melancolia, estar contente parece uma tarefa árdua e quase impossível. Pois, depois de tudo posto, o que sobra é o sentimento de que apesar de inseridos em um contexto, nunca quisemos nada com tudo isso, e acabamos nos tornando autores daquilo que não é, não foi e nunca será nosso.
E no meio dessa confusão sem nome e nem endereço, vez ou outra, o chacoalhão aparece. Seja em forma de decepção, seja uma visão, seja uma palavra dita, seja uma palavra não dita, ou na forma de um mundo todo que passa a se apresentar para nós em tons pasteis. 
A melhor recompensa que temos dessa coisa que aparece para chacoalhar nossa vida, é ela ter aparecido. Principalmente aquele momento que mostra o que não é, desmistifica uma situação, quebra uma verdade, sacode uma estrutura, desfaz uma ilusão nos permitindo pequenos vôos...
Não é por amor, não é por paixão, é por questão. É por necessidade de continuar navegando pra qualquer direção que nos traga um propósito. É algo que ultrapassa a própria razão. 
Restabelecidos pós movimentos, voltamos para terra firme e nos permitimos outra vez, e outra vez, outra vez. Enquanto isso a levianidade e a aparência aliviam o sufoco, é o que alimenta nossa máquina de centrifugar a rotina. 
Estar sempre à espera requer mais paciência do que alma. Alma é apenas marionete do sentido. A brevidade da alma passa a não fazer diferença quando passamos a encarar a realidade que não tínhamos. Pois passando por isso, outros se tornam apenas outros, coisas apenas coisas e situações apenas diversões.
Transformados, atingimos um estado que jamais voltará a ser normal. Acontece sempre, pois as movimentações da vida nunca são lineares.

29.10.15

Estradas Infinitas e Poeiras Varridas

Tem gente que quer dizer, mas não é bem vinda e é obrigada a guardar tudo para si. Tem gente que é incansável e continua abrindo caminhos infinitos esperando encontrar alguém no fim de um deles, mas só encontra caminhos vazios. Tem gente que encontra infinitas possibilidades de declarar, mas vive na ignorância.
Tem gente que não perde as esperanças, engole e finge. Pisa em cacos dizendo que não dói, colocando curativos por cima de tudo sem nem mesmo tirar os pedaços, sem mesmo saber que não tem cura. Tem gente que esconde, mas isso não funciona mais.
Tem gente cansada de não se deixar ouvir. Tem gente que tem atrás de si um enorme caminho com poeiras varridas.
Tem gente que já escondeu o máximo que pode, só que até as suas falsas aceitações de que está tudo bem, não preenchem mais.
Tem gente que insiste, passando a vida encarando a incerteza e se perguntando se vale mesmo todo esse sufoco.
Tem gente que chora antes de abrir a boca e engasgada assim não convence ninguém de que nem tudo é sentimento, mas que também há razão em querer sentir.
Tem gente que dá todos os sinais e mostra diversas vezes que o breve não basta. Tem gente que quer dizer, mas escuta um “depois a gente fala”. Mas o depois nunca chega e não consegue mais esperar. Tem gente que não tem mais tempo para dizer. 
Tem gente que sente muito por alguém ter sentido tão pouco. E que dessa vez será ela quem não vai estar no final de qualquer destino quando você chegar.
Tem gente sem mais saco para competir com o nada, com as neuras, medos, insanidades ou traumas. Com pressa em sair da paranoia do outro. Terminando dizendo que sente muito, só que dessa vez não sente por si, sente muito por você.

3.9.15

Deixe ela lá

Deixe ela lá, entre o dito e não dito, entre a certeza da dúvida e a dúvida da certeza.
Deixe ela lá, intocável, imortalizada, idealizada, imóvel, enraizada.
Deixe ela lá, no seu mais espetacular talk show no mudo.
Deixe ela lá, não estrague o milagre dessa conexão impossível.
Deixe ela lá, escondida, em secreto, no poço fundo do desejo.
Deixe ela lá, compreendida, fabulosa, perfeita,aprisionada no cativeiro das expectativas, da vontade e do fascínio.
Deixe ela lá, no ideal, no colorido, naquele mundo que só você criou com ela e para ela.
Deixe ela lá, no que não foi.
Deixe ela lá, ali não tem repreensão, castigo, censura ou julgamento.
Deixe ela lá, não a acorde, não acorde.
Deixe ela lá, tudo é mais fácil e bonito nesse pequeno universo paralelo. 
Deixe ela lá em meio a beleza das flores, em meio a poesias de sol se pondo.
Deixe ela lá, porque já não faz parte, porque já não há lugar, porque não há mais tempo, porque não há mais espaço. Porque não faz sentido, porque não há segurança.
Deixe ela lá, pela vontade de esquecer. Por dias de paz, por dias que simplesmente amanheçam.
Deixe ela lá, ali ela não te prende, ata ou congela.
Deixe ela lá, ali não tem nada instável, supérfluo, muitos talvez e tanto faz. Ali não tem nada mediano, incompleto e conformado.
Deixe ela lá. Ali tem jogos, apostas, diversão. Não tem sobriedade, equilíbrio ou razão.
Deixe ela lá, mergulhada na crença vã e da fé de que tudo vai dar certo.
Deixe ela lá, sem a cobertura da moral e dos bons costumes, do politicamente correto e da politicagem vazia.
Deixe ela lá, ali tem reciprocidade, tato, gosto do gostar.
Deixe ela lá, no limite da existência e da coerência.
Deixe ela lá. Seu mundo e o mundo dela dependem disso.

Deixe ela lá.

7.7.14

Peregrinar na Ignorância é um Giro de 360 Graus

Você foge do passado, seu passado foge do futuro e o seu futuro foge de você. Um círculo formado! 
O ir e voltar ao mesmo ponto, numa peregrinação intensa e constante de existências fundamentadas na aceitação, na troca e na repetição. 
Uma ciranda de relacionamentos movidos a escambo. Cheia de máscaras lustradas no interesse e interações conectadas ao egoísmo. Cada ação, cada passo à frente é um movimento em direção ao interesse próprio, ao que vou ganhar, à própria, única e insignificante existência. 
Uma roda cheia de vidas desperdiçadas, que de forma consciente ou inconsciente, procura se encaixar em algum lugar pré-moldado. Vidas inteiras formadas na obediência a quem e àquilo que dita as regras. 
E as suas regras, que deveriam ser importantes nunca são válidas. Sua voz nunca é ouvida. Seus motivos nunca são suficientes. Sua situação nunca é levada em consideração. 
Uma marcha, onde o outro te apoia porque se apoia nessa imensidão de ignorância, de conformismo, de preconceito, e se alegra do conforto da inquisição de novas ideias.
Uma volta com amores idealizados, infundados, embriagados na enganação de hormônios e na opinião de um círculo.
Giros de 360 graus só te colocam no ponto onde você já está, onde aquele outro já esteve, onde aquele que te segue estará. 
Vidas de pouco significado. Com muito barulho, muito julgamento, muita conclusão, muita conversa, muita expectativa. Uma verdadeira prisão de desejos, de segurança máxima! Ah se pudesse sair da manada... 
Se pudesse ler ao menos um segundo, saberia tudo. 
Se pudesse ver com seus olhos por um segundo, veria tudo. 
Se pudesse ouvir com seus ouvidos, entenderia. 
Se pudesse sentir sem julgar, sentiria tudo.
Se pudesse experimentar, saberia, veria, entenderia e sentiria.
Se pudesse se libertar, amaria. E se pudesse amar de verdade um segundo que seja, amaria tudo, incluindo a si próprio e teria uma vida longe de um círculo vicioso que se repete.
O mais importante não é onde você chegou e o que enfrenta, mas sim o que fez o que não fez para estar onde está.

1.10.13

Para Histórias Futuras, Rasgue os Textos do Passado

Gente que desafia a condição do tempo em busca de um amor. Gente que acredita que pode repetir o passado, que acalma a busca fazendo a simples regressão do passado para o presente. Gente que afirma que ao reprisar o passado, pode-se esperar um final distinto. Mas, basta a infelicidade bater a porta que o risco de se machucar lembra o que nunca se esqueceu. 
Gente iludida, que ao olhar para trás, ao que aconteceu de bom, comete o erro de supervalorizar ou de achar aquilo tudo imensamente belo. E por lá ficam presos, no mundo fantástico da fantasia. E nesse mundo enfeita o jardim com o pensamento de que se algo deu errado, é porque poderia ter feito diferente, deveria ter exercitado a paciência ou quem sabe ter agido com mais sabedoria. Gente que se depara controlando e mudando o passado, mas que só encontra em si mesmo o seu pior adversário. Porque tem dificuldade a qualquer ato que remonte a desmontagem de uma ilusão arquitetada ou mesmo a renegar a cegueira de um amor totalmente fantasiado. 
Gente que fica e preza as relações sem sentido, mas que ficam lá como se tudo bastasse, com se tudo um dia se ajeitasse, como se tudo pudesse ser pior. Gente que limpa da fantasia o desentendimento, rega a paciência e espera cultivar a estabilidade. Gente que finca os pés no passado e ao sinal de qualquer aviso para limpar o guarda-roupa, se livrar do velho, fazer andar a fila, procurar o novo e trocar, vive na memória do objeto, da maquiagem do passado, da perda da estabilidade, da escravidão da cultura e do próprio destino. 
E assim se dá cor à rotina. Cor de passado, cor de limitação, cor de ausência e da não reconstrução da vida. E nessa dificuldade de ter medo do próximo instante, não saímos de casa, não deixamos as portas abertas e o passado figura como fantasma, espantando o futuro. 
Fazemos do drama o sentido, da propriedade a certeza e, por mais que tentamos escapar da dúvida, deixamos o próximo passo sem imaginação. Tentamos se repetir no passado, nesse apego infundado, um cárcere profundo. Sem lembrar que são nossas histórias que devem continuar, e não os textos.

25.9.13

Procura-se Protagonistas para Biografias

Tá faltando alguém. Faltando alguém do teu lado que fique. Alguém que ature o teu gênio difícil e as tuas mancadas. Tá faltando alguém disposto a te fazer crescer e a crescer contigo. Alguém que venha quando você precise. Alguém que dentre todas as pessoas, te escolha. Alguém que realmente precise de ti. 
Tá faltando alguém que tire seu passado do presente. Alguém que tire todo o ódio, mágoa, remorso, frustração  decepção e culpa.  Tá faltando alguém que te liberte dos seus fantasmas. Tá faltando alguém que não te impeça de viver o presente. Alguém que não te faça dormir com o inimigo.
Tá faltando alguém que não gaste sua alegria, suas energias. Tá faltando alguém que não seja o já era. Tá faltando alguém que te realize, que não te leve para conhecer pessoas que não goste, que não te leve para ambientes que te faz mal. 
Tá faltando alguém que não rife seu coração, alguém que lhe dê seu real valor. Tá faltando alguém que não seja coadjuvante de sua história, que não esgote a sua auto-estima. Tá faltando alguém que não faça o que não concorda, que não estrague sua paz, que não amarre sua alma. 
Tá faltando alguém que te impeça de ficar em círculos, correndo atrás da esperança de um novo ele. Alguém que não te faça abrir mão dos seus sonhos, que saiba priorizar o quanto você é importante. Tá faltando alguém que não jogue fora o seu tempo...
Tá faltando alguém que goste de você de verdade! 
Tá faltando alguém que faça parte fundamental de sua biografia.


5.3.13

Ensaios de Não na Vontade do Sim

Não seja tão amigável. Não mande mensagens inesperadas. Não fale de sentimentos quando alguém falar de desejo. Não olhe fundo nos olhos. Não pegue na mão com malícia. Não prometa carinhos. Não prometa o que não podem existir. Não convide para sair. Não repare nos detalhes. Não olhe para a boca. Não crie expectativas para não criar necessidades. Não dê a entender mais do que poderá dar. Não beije enquanto toca uma música. Não sorria quando alguém fala de saudade. Não fale de saudade. Não se engane que precisa e que quer de novo e breve. Não compartilhe silêncios. Não permita que aflore. Não permita sentir essências de repente. Não se perca. Não responda de imediato as mensagens. Não responda tudo perguntarem. Não se deixe sem palavras. Não diga que é diferente. Não diga "pra sempre". Não acredite tanto em você. Não seja tudo que alguém sempre quis. Evite rimas entre o primeiro contato e a realidade. Não dê atenção às palavras que insistem em te sussurrar no ouvido. Não crie esbarrões para roubar carinhos. Não leia ou faça poesias. Escape de beijos, gostos e declarações que você nunca fez. Mas não fuja em vão. Suspiros dão a entender qualquer coisa que não seja. Faça bilhetes nunca entregues... Desconsidere o tempo, e engula a inspiração sem gelo. 

15.2.13

Limitação Pós Momentos Especiais


Quanto tempo terá perdido com seus cafés? 
Não falo exatamente do tempo em que toma café e faz qualquer outra coisa junto, mas do tempo em que saiu para isso. 
Naquele tempo que permaneceu na solidão de segurar a xícara. Apenas café. Distraindo-se, quem sabe, com algum quadro, paisagem, alguma foto, alguma janela, alguma rachadura ou mancha na parede. Ou pensamento fixo – no trabalho que não sai, no fim de semana que não chega, no passado que não se esquece, no tempo que não passa, na saudade que não passa. Ou na morte que não vem. Quanto tempo terá perdido com seus cafés? Nunca muito tempo... Mas muito mais tempo desde que aquele momento especial foi embora. 
Todas as coisas mudam. O teu esforço para permanecer como está é aquilo que te limita.

22.6.12

Jaula Coletiva Inconsciente

Cuidado com a jaula coletiva inconsciente. Uma jaula de vários quartos.
Para cada quarto é necessário algum tipo de obediência, um enquadramento. Tem regras enrustidas básicas de convivência que visam o controle. O seu controle.
A jaula tem um padrão de vida a ser perseguido, e mesmo sendo uma prisão, tem muita vaidade no ar.   
Cuidado com a falsa sensação de liberdade por lhe deixarem escolher o quarto. Lembre-se que a liberdade de verdade está do lado de fora da jaula. Mas isso ninguém aceita.
Dia após dia as pessoas continuam brigando para permanecer e manter a ordem dentro dela, abraçando a tradição, acariciando a ordem, sem consciência, não querendo enxergar, em prol de uma mentira coletiva...
Quartos diferentes, a mesma obediência, o mesmo padrão de comportamento. O deboche e o choro. A inveja e o esquecimento. A eterna busca pela vantagem. Todos no escuro. 
E aí a morte chega, mas a morte em si não é o problema, e sim a vida que aconteceu antes disso. Vida presa.
E o que vai ficar são as inúmeras fotos pregadas nas grades, fotos de momentos felizes, com as faces voltadas para quem está do lado de fora. Mas ninguém prestará atenção.

13.5.12

Quando a Escrita Encontra a Vontade

Aquela vontade de nunca mais escrever. Aquele sentimento de ter a vida sem palavras por perto.
Desejando os pensamentos que os olhos não podem ver. Ao mesmo instante que o coração passa a olhar com mais intensidade e os olhos passam a sentir coisas antes inimagináveis.
Parece incrível, mas tem um momento que um dia te alcança, aquele em que já não se acredita em mais nada. É se conformar, quando já não se acredita no que se vê, no que se sente, no que se desenha.
É ter certaza que é fundamental e é mesmo indispensável aprender a ser feliz sozinho. E que o mundo está estranho e cheio de pessoas estranhas. Palavras..., saudades, e aquilo que não aguentamos é o que gruda em nós, suja todo o papel.
Nessa vida é fácil deprimir, pois todo mundo nos dá um monte de razões, e é fácil mergulhar na tristeza. Mas não queríamos ser tristes, queríamos ser feliz realizando as palavras. Mudando tudo!
Queríamos um dia apenas, para provar que as palavras poderiam ser verdadeiras, e continuar mostrando para todo mundo a alegria que é quando a escrita encontra a vontade. Mas desistimos de escrever!
Ninguém se importa se estamos todos afobados a ponto de entregar nossas confissões e confusões ao mesmo tempo que desenhamos monstros. E a vida passa depressa. Escrita em linhas tortas...
Vai passar! Pois os dias são breves, e também breve é a ilusão da perfeição e da espera.
Aprendemos com o tempo que só nos braços de alguém é que as palavras podem nos fazer felizes. E a realidade é que essa não é a realidade. E se ao menos pudéssemos escrever o que dizem os nossos olhos...
Por isso desistimos de escrever. Vamos deixar esse vazio sozinho em si mesmo, completo, profundo, total. Um texto que não foi passado a limpo e que não possui um final. Palavras sem leitores.
Vilões e mocinhos em nossas biografias romanceadas, de nossos diários escancarados de monstros escondidos.

28.4.12

Renegar a Certeza é se Afogar no Medo

Naufrágio na certeza. Pois a dor é real e a esperança virtual.
No caminho do refúgio e da busca para a paz da alma, renegar a certeza é se afogar no medo.
A grande questão da vida não é encontrar a ilha desconhecida do engano, mais sim conseguir descobrir quem realmente se é quando nela estiver. Por que por vezes o desconhecido é aquilo que evitamos viver novamente, aquilo que não aceitamos, aquilo que sabemos que vai doer, aquilo que nos persegue.
Nadamos a braçadas em busca de uma palavra de consolo... Aquela que faz cócegas no ouvido, afasta o sofrimento e traz o alívio que é ter uma segunda chance, uma oportunidade de fazer diferente. Mas não temos. A realidade é outra!
A realidade é ter de passar novamente pelo sofrimento que se evita. É ter de encarar seu pior inimigo sendo ressuscitado dos mortos. E diante disso nos perdemos...
Se já é difícil demais explicar sentimentos a respeito de coisas novas, imagine então explicar o que se passa quando traumas voltam à tona?
A vida não tem volta. É só ida. E muitas vezes é só indo mesmo para ver se nos achamos novamente. Uma tragédia, uma dificuldade, uma doença, uma má sorte, uma decepção, uma fatalidade sempre gera um novo eu. E não adianta nos procuramos no bar, em remédios, nos sonhos ou na enganação. Não estamos e nunca estaremos lá.
Nossas noites viram uma sequência de porquês, lágrimas, raiva, medo, sono, pesadelo e retorno para a realidade. Ninguém! Nenhum rastro do perfume de alguém para consolar.
Sua vida é só sua, e ninguém mais se preocupa com ela ou com o que se passa aí dentro. Quase ninguém, pois sempre vai haver uma (um) ou outro (a). E isso te ensina algumas coisas importantes...
Nenhuma voz pra dizer que não vai ser assim tão ruim de novo. Nenhum milagre ou força sobrenatural para fazer o sofrimento ir embora. A faca corta, o remédio não faz efeito, e dói.
Nenhum vestígio de alívio. O alívio só vem com o tempo, e ele te traz um novo eu.
Ninguém dizendo que te viu sofrer. Ninguém pra te contar que a culpa não é só sua e que a vida é mesmo infeliz em grande parte do tempo, que fatalidades e dificuldades acontecem até mesmo com você. Se enganar é frequentar um lugar que não existe sempre a espera daquilo que nunca chega. Desista e enfrente. Não enfrentar é pior, não te deixa evoluir. Mas é difícil... Todos os dias.
Uma cortina desenhada com seu pior pesadelo. Um coração assustado e apreensivo. Um espetáculo que ninguém aplaude.
A penitência, o encontro com a dor e a solidão. A vida é simples, frágil, um nada.
Sete da manhã. Café e esperança. Muito sono, um pensamento fixo que incomoda o tempo todo. Um bom dia cismado e muito mau humor. Um corredor cujo sofrimento é longo. Fingimentos.
Não basta ter de enfrentar, é necessário engolir goela abaixo que não há nada que se possa fazer. Um naufrágio, perdido, encurralado pela impossibilidade.

13.4.12

Mantenha as Luzes Acesas. O Tempo Ruim Passa.

Temos um plano, não temos promessas.
Basta um dia na tempestade para não nos importamos mais com a chuva. Já estamos molhados.
O guarda-chuva que gostaríamos de dividir com o outro finalmente terá  utilidade. Vamos dar carona e passar o braço pela cintura da saudade. Desviando das poças das decepções e nos protegendo dos pingos da insanidade.
Não temos mais promessas, e eram justamente as promessas que nos deixavam felizes. Hoje temos só um plano.
E o plano é ter que usar o guarda-chuva. Mas não sabemos mais caminhar com ele. Não mais. Desaprendemos. Ou realmente nos damos conta de que nunca soubemos.
E a expectativa é irritante, exigente, nos acompanha, pois a inventamos no outro e em situações que não acontecem nunca. O futuro era só uma parede branca cor de gelo. Nenhuma palavra.
Mas e o caminho já percorrido? O que fazer com o aquilo que foi traçado? Do que adianta a proteção quando já se molhou o suficiente para ficar doente?
Sempre pode piorar, sempre a doença evolui, sempre se pode morrer mais um pouco.
Separe toalhas, feche as janelas. Cuide-se. Uma saudade morre, para outra preencher.
Mantenha as luzes acesas. O tempo ruim sempre passa. O próximo dia vai valer a pena.
Jogue fora sua coleção de tempos de enganos e desenganos. Não faça mais promessas.
Deixe apenas que os seus fantasmas façam companhia para o seu passado.

25.2.12

Somos Todos o que Ninguém Vê

Um dia é o sorriso largo. No outro é choro escondido.
Um dia é o arrepio. No outro é o arrependimento.
Um dia é a nudez. No outro é a vergonha do desejo.
Um dia é a química. No outro é a física.
Um dia é a sensação de queda livre. No outro é estar machucado no chão.
Um dia é a alegria de estar lá. No outro é a vontade de morrer.
Um dia é a ansiedade de uma semana antes. No outro é o alívio do segundo depois.
Um dia é cada milímetro do corpo. No outro cada cada metro de distância.
Um dia é a presença em festas. No outro a solidão da bebiba.
Um dia é tirar muitas fotos. No outro é ter medo de fantasmas.
Um dia é a loucura desenfreada. No outro a sanidade planejada.
Um dia é a música alta. No outro o silêncio.
Somos todos o que ninguém vê. A essência, o excesso e a falta.

11.2.12

Nada mais Especial que Sentir

Coisas especiais deveriam sempre continuar assim. Inesperadas. Aleatórias.
O plantar sem saber onde nascer. Sem influência da rotina, da insegurança e da dúvida.
Nossa única obrigação é deixa-las então, que elas continuem como são, coisas especiais. Por que é o que basta. Mesmo que a conversa seja definitiva. Mesmo que acabe. Mesmo que especiais sejam só as justificativas, declarações e versos velados.
É especial esse momento onde o passado nunca se faz necessário e o futuro nunca se faz tão urgente. Porque te ensina que ninguém morre de saudade. Que tudo passa e que tudo pode morrer dentro e fora de você.
Por isso, deixemos que a lembrança marque o coração de papel com tintas de lágrimas e grafia de dor. Porque é especial o momento em que a vida escreve. Enroscando uma situação na outra, te levando para os mais inimagináveis e estranhos caminhos. Te mostrando as mais diversas pessoas, situações e escolhas. Ás vezes durante a escrita, a rima é boa, uma sequência de frases felizes que se combinam. Às vezes é rima ruim, falta de alguém, amor saudoso, desespero, decisões erradas e arrependimento.
Mas é tudo especial, são momentos únicos, é mágico. Você vive, você sente, você está aí!
É lindo viver nem que seja uma única vez na vida esse encanto...
Às vezes a vida só escreveu errado, às vezes não era pra dizer, para ser, escrever ou aceitar. Mas ela te ensina a superar. Especial é o sentimento único da superação. Rasgar rimas ruins e reler as rimas boas.
Coisas incríveis são as que fazem crescer, evoluir, modificar. Mesmo que para isso acontecer um dia você tenha de chorar.
Deixar a vida escrever é se entregar. É curtir os momentos até que as linhas finalmente acabem. E elas acabarão para todos nós.
Não há entrega mais bonita que sentir e aproveitar, seja o prazer, seja a dor. Nada mais especial.

31.1.12

Escolher Errado é Passar Frio

"You make your choices and you live with them. And in the end, you are those choices."

Nossas vidas são a soma de caminhos que deixamos de pegar. Um emaranhado de histórias que não se realizaram. São novelos de falta de coragem...
Não soubemos renunciar às coisas das quais era necessário abdicar para que escolhas melhores tivessem uma chance.
E assim, um nó cego se formou cada vez que desistimos de desejos, paixões, amores e sonhos. Jogado fora...
Um nó de marinheiro foi dado para cada momento que custamos a aceitar que nada se realiza sem perdas. Desfeito...
Por não querermos perder nada, acabamos perdendo tudo.
E hoje faz frio, os fios ainda estão embolados, e ninguém mais têm blusa de lã. O tempo passou, não há mais tempo.

3.1.12

Apreciar a Cereja das Entrelinhas

Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Um verme? Uma dúvida saudosa. Resistente. Altamente contagiosa. Uma vez que uma dúvida toma conta é quase impossível de eliminar. Uma dúvida formada, totalmente incompreendida, permanece em algum lugar aí dentro.
A dúvida pode se tornar saudade. Aí é como começar a jogar, numa mesa sem dinheiro e com cartas ruins, só para ser cumprimentado e estar à vista do público. Uma onda de fingimento. Fingir que se luta dando golpes sem direção. Fingir que pegou o melhor peixe. Fingir sentar nos sofás alheios e fazer parte de famílias. Fingir a felicidade ao comer, beber. Fingir ter uma vida boa regada a festas e muita distração.
Amor incompleto, beleza e afinidade não saciam fome. Duram algumas horas, mas chega o momento, perto da madrugada, que você vai querer ir até a geladeria.
Amor é sentir um certo peso que põe fim a falta de limite e te prenda ao chão. Duvidar é quando começa certo. Amor é quando começa errado, para no final ter o prazer mútuo da conquista e da vitória que é um relacionamento entre pessoas diferente.
Precisamos de menos regras ditadas – e mais pontos de vista ouvidos. Apreciar a cereja das entrelinhas. O bolo da vida é apenas detalhe.
Amar e olhar de verdade, aceitar e gostar do que se vê. Valorizar o que se reconhece.
Amor não reprime, provoca. Mostra o escondido. Mostra caminho, não impõe trajetória.
Dúvida é estar longe. Para amar não precisa estar junto, basta estar do lado de dentro. Essencial são os pontos de vista trocados.
Confunde-se muito insistência com merecimento. Desejo com disponibilidade. Erro com circunstância. Distância com saudade. Vida com prazer. Afeto com pena. Afinidade com amor. Dúvida com infelicidade. Fácil é mentir para todo mundo o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos decepcionamos com o que achávamos ter visto.

25.12.11

Expectativa Criada é Ferimento com Agulha

Costurando trapos. Lembrando dos dias doces, das atitudes inesperadas, de sentimentos.
Tornando-se especialista na arte dos remendos. Pois um dia alguém olhou fundo, mergulhou retina adentro, e só não caiu por que segurou nossa mão com firmeza. Deslizou os dedos entre os nossos, um dia fez uma medição de mãos.
Juntando retalhos. Querendo de volta carinhos cúmplices, o estar pertinho, o esbarrão intencional, o sentar do lado, as juras que não podiam ter existido. Querer os convites para jantares que nunca aconteceram, festas, chegadas e partidas. Um simples café da manhã que nunca teve.
Balançando o pó. Reparando na imagem congelada dos detalhes, expressões, sorrisos e medos que se passaram. A fotocópia da expectativa criada é a necessidade.
Bordando assuntos. Um dia alguém lhe deu mais a entender do que poderia te dar. Um beijo que marcou uma música. Uma decepção que marcou pra sempre a vida. Matando sorrisos quando se lembra da saudade, sentindo o gosto das lágrimas onde o amor se afogou. Uma frase que nunca virá, uma vontade que se foi a muito. Diz que não precisa e que não quer de novo, muito menos logo. Nos tornamos um molde para uma peça que ficou só na imaginação.
Fazendo o ponto do silêncio. Longo, dolorido, irreal, destruidor. Amor ferido pela paixão branca, que rasga fundo. Não respondendo mensagens, não respondendo perguntas, não dizendo mais uma única palavra que lhe interessaria. Uma linha frágil. Não foi para sempre. Não era para acreditar tanto. Não era para ser exatamente como se imaginou. Não era para ser tudo o que sempre quisemos.
Costurando trapos. O gosto empoeirado de pensar em alguém e não deixar que saiba isso. A falta de ar momentânea, a dificuldade que não agüentamos mais. Então, baixinho, recortamos o pensar, o de lembrar e tiramos dos olhos. Mas o pano velho nos lembra todo dia. Cheio de pó e esperança, fica lá, no canto, o símbolo de que lembramos todo dia de quem fez questão de nos esquecer. Guarde-o e não fique mais torcendo para que algo incrível aconteça, algo não planejado, algo arranjado por forças maiores. Isso é ferimento com agulha, só decepção. Não era sua vez e não era a hora de alguém. E agora o tempo passou.
Tem dias em que a gente deve acordar e simplesmente entregar a agulha para que o esquecimento vá costurando os anos.

15.12.11

Rascunho de Amor com Rodapé de Mágoa

Às vezes se encontra o mapa do paraíso. Mas alguém te faz naufragar pelo caminho.
Às vezes um pequeno passo é que junta duas pessoas. Mas são pequenos movimentos que te fazem desacreditar.
Às vezes você conhece uma pessoa. Por essa pessoa você decidiria ficar até amanhecer. Só para fazer com que aquele hoje durasse mais. Só para repetir todas aquelas coisas que davam frio na barriga, que te deixavam nervoso, que eram inesperadas, que coloriram a vida, que te despertavam para o que você é. Mas ela não te dá esse tempo...
Por ela você ficaria amanhã também. E depois, e depois. Mas não pode. É só vontade.
Por ela você se perguntaria muitas vezes: “O que é que eu estou fazendo?”.
Às vezes você perde os seus sentidos. E recobrar a lucidez é mergulhar de cabeça na decepção. E aqui estamos. Nessa leitura estamos. Reconhecendo-nos. Lembrando. Culpando-nos da entrega?
Duvidar é ter a certeza de que muitas outras coisas não foram mencionadas. Mas você sabe... Por mais que foi, não foi. Por mais intenso que era, se apagou. Por mais verdadeiro que parecia, era falso. Por mais feliz que fosse, era ilusão. Por mais amor que sentiu, era decepção.
Às vezes, se pudéssemos ficar, ficaríamos. Um pouquinho mais, o suficiente pra enjoar e fingir que nem foi. Mas não tem como. Às vezes não dá tempo. Somos todos julgados e nos julgamos pelas decisões que fazemos e não pelas decisões que poderíamos ter feito. Quanta injustiça! O que era, foi!
Maldito círculo vicioso da tentativa imbecil de enganar a vontade e a verdade. Na tentativa fracassada de achar que fazemos as coisas do jeito certo. Às vezes dizemos que a pessoa era certa na hora errada. Inevitável.
Por uma pessoa você adiaria o sono só para guardar o gosto. Guardaria a roupa só para relembrar uma emoção. Esconderia um desejo para evitar o pior depois. Não magoaria.
Às vezes você não admite que as coisas vão continuar exatamente como estão. Você vicia nessa dor que não tem data e nem hora marcada pra acabar. As coisas vão continuar. Exatamente do jeito que essa pessoa um dia te deixou. Sentado à margem de uma fonte de mágoas, tristezas, justificativas e desconsolação.
Uma pessoa. Capaz de te deixar com uma história em mãos. Toda em branco. Preso em páginas em branco com uma caneta sem carga. Um livro secreto com a decepção no rodapé. Apenas lembranças de nada completo. São como os rascunhos que permanecerão na mesa. Porque pela primeira vez você sente que não preciso mais jogá-los fora…
E assim sua vida se vai. Por que você vive evitando o amanhã. Porque sabe que seu dia seguinte é sempre um nunca mais.

24.11.11

Na Estrada do Desejo Depois da Curva da Saudade

Atraso de vida é andar na contramão da indiferença, na estrada do desejo. Por que um dia você acaba se encontrando.
E na companhia de si mesmo, terá de voltar e tentar reencontrar o caminho certo.
Nesse período, sinta muito calor ou muito frio. Deixe o morno de lado. Afaste-se e esqueça. Um dia a chuva vai parar.
Por que você vai ter de virar para esquerda ou para a direita. Não vai dar para seguir em frente.
Será uma escolha entre quem você deve ser, e quem você realmente é.
E no final do percurso, lá depois da curva da saudade, para o último apaixonado existente, ficará evidente que tudo foi apenas passatempo.

(Ilustração: Matt Furie)