30.4.10

Liberdade: Ausência de Distância e Presença de Confiança

Sempre gostei de Shakespeare, mas só hoje consigo ver as suas obras com outros olhos.
Há algumas semanas atrás, tive a oportunidade de conferir de perto a peça Otelo, uma de suas obras mais famosas. Confesso que foi muito bom estar novamente em contato com espetáculos que fazem pensar.
Otelo é assim! Mostra o interior do homem, suas angústias, seus desejos e inquietações ao tocar num assunto muito polêmico, o ciúme!

“Monstro que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce. Monstro de olhos verdes que escarnece do próprio meio que o alimenta” Shakespeare (Othelo A, III, 4, 159).

Monstro de olhos verdes! Frase marcantes como esta permeiam toda a obra e revelam toda a genialidade de Shakespeare. Pense, como pensei ao ouvir:
"Os ciumentos não precisam de causa para o ciúme: têm ciúme, nada mais"
"Os homens deveriam ser somente o que parecem".
"A reputação é um apêndice ocioso e enganador, obtido muitas vezes sem merecimento e perdido sem nenhuma culpa".
"Só escuta de bom grado uma sentença quem em proveito próprio nela pensa".
"É tolice viver quando a vida é um tormento: dispomos da prescrição de morrer, quando a morte é nosso médico".
"Trabalha, meu veneno! Trabalha!"
"Nossos corpos são nossos jardins, cujos jardineiros são nossas vontades".

Peça rica em detalhes psicológicos e comportamentais, que tem como conclusão Desdêmoda estrangulada por Otelo, desesperado pela desconfiança de ter sido traído.
Depois do assassinato ele mesmo crava o punhal no próprio peito. Desdêmoda, porém, não cometera adultério. Cego de ciúme e influenciado pelo invejoso Iago, Otelo se deixa levar pelo que considera ser prova da infidelidade da mulher.
Aliás, a palavra ciúme vem do latim zelumen e do grego zelos, por isso, muitas vezes ele é encarado como uma prova de amor, de cuidado, de zelo com o outro.
O ciúme é a manifestação de um sentimento que geralmente está ligado ao amor, porém, como a peça mostra de forma perfeita, pode nos levar a caminhos de dor e angústia independente da idade, do sexo, da cor e principalmente dos motivos...
Até mesmo a atual geração das relações passageiras sente ciúme! Envolvimentos sucessivos e, em geral, pouco duradouros, não contribuem para o desenvolvimento emocional e para o conhecimento da própria sexualidade, mas mesmo assim, nesse momento, sempre costuma manifestar-se um sentimento de posse em relação ao parceiro, por mais passageiro que este seja.
Para encurtar nosso post, quando falamos de ciúme, falamos que o medo de perder é que leva a perda.
A liberdade que nós realmente precisamos, é a ausência de distância e a presença de confiança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário