30.10.10

Complexidade e Contradições na Convivência

A música que toca ao fundo sempre foi a trilha sonora que embalou o seu relacionamento. Sempre a mesma música e as mesmas sensações que a faziam lembrar daquele que agora é seu marido.
Mas de um tempo para cá ela já não sente as mesmas coisas.
Já se passaram alguns meses desde seu casamento, janeiro, maio, abril e hoje ela já percebeu que não há mais o que comemorar.
À medida que ela começou a conviver com ele, começou a perceber, a se diferenciar e a enxergar que ele não corresponde às suas expectativas e sonhos. As coisas mudaram...
Ele que parecia engraçado (afinal ela ria de suas piadas), educado, bem humorado e tinha um sotaque encantador, hoje lhe parace um estranho. Frustração é o que se enxerga em seu olhos. E eis que começa a passar um filme em sua cabeça, as possibilidades que ela teve e não enxergou por que estava cega. Era adolescente, não sabia direito o que era bom, o que era mal e o que era TPM ou amor.
A música de fundo tocando, e ela sem aquele parceiro que tanto insistia para que ela dançasse. Justo eles que tinham um propósito, tinham um esconderijo, tinha um pacto. Parecia perfeito! Ele tinha seus defeitos, é claro. Não falava direito, não estudou, não tinha trabalho fixo, tinha fama de paquerador, mas ele era disputado e engraçado.
Ficaram noivos, se casaram. Fizeram juras de amor e fidelidade publicamente.
Mas agora, o sonho do "foram felizes para sempre" virou pesadelo do “até que a morte os separe”.
Ela mal viu o tempo passar. Dos encontros na praia, das diversões e das saídas escondido, como num passe de mágica, ambos passaram a ser um só, passaram a compartilhar além da mesma cama, os mesmos valores, gostos e hábitos;
Mas agora é diferente. Surgiu um complicador que é o compromisso e o convívio diário.
A cada trago de açúcar ou brigadeiro de panela, o seu coraçãozinho inexperiente acabou indo para o casamento embalado por um clima de segurança, disponibilidade, encantamento, fantasias, sonhos, desejos, expectativas e, principalmente, sensação de amor.
Ela estava convencida de que o amor que ela achava que sentia, ia os unir e iria fazer com que vencessem todos os obstáculos e diferenças e que iriam superar tudo. Mas ele era mesmo mulherengo e o amor não supera mesmo isso...
Mas também o amor por si só não basta para um relacionamento e ninguém nunca disse isso a ela.
O amor tem que vir acompanhado de um conjunto de habilidades, vontades e qualidades pessoais que vão dar o tom e sustentar o convívio.
Ela construiu uma relação não com uma pessoa real, mas sobre a imagem que ela fazia dele. Não enxergava e não sabia o que era mesmo bom! E por isso hoje está difícil lidar com os problemas e dificuldades que estão surgindo.
Ela não sabia que ele era tão egoísta e que pensava só nele.
Ela na verdade nunca passou de um prêmio para ele, um prêmio que deveria ser conquistado a qualquer preço. E agora que ele a conquistou, ela perdeu a graça.
Não a ensinaram que no dia-a-dia de um casal moderno, ocorrem dificuldades, desapontamentos e frustrações de difícil conciliação com as numerosas expectativas românticas que ela trouxe para o casamento por estar cegamente apaixonada. Ela não compreende...
"Você não é mais o mesmo" "não foi com essa pessoa que eu escolhi para viver minha vida", "você não é quem eu pensei que fosse", "fiz a escolha errada". Essas são frase recorrentes a pensar nele e a música perdeu o sentido.
Hoje suas as expectativas estão frustradas, e ele é visto como um estranho, como alguém que a impede de crescer. Mas ele era o namorado romântico ideal... e após o casamento ele não demonstra mais seu amor no dia a dia.
Ela pensou no casamento como um conto de fadas. Mas, pensá-lo dessa forma é uma utopia, é fugir da realidade, é uma realidade falsa. E aí começou a falência do seu casamento.
O casamento é um projeto de vida a dois que envolve além de amor, tesão e confiança, uma complexidade e contradições a lidar na convivência.
É enxergar a si e ao outro como pessoas reais com qualidades e diferenças significativas que teremos que conviver, aprender a amar, compartilhar, repartir, confiar, tolerar, ajudar, criar, entender.
Casamento é como uma coreografia, cuja música muda a toda hora e não fica sempre no mesmo ritmo da época do namoro.
Casamento é uma dança. Inicialmente você precisa ter disposição, vontade e interesse para dançar, pelo simples fato de escolher um parceiro diferente de você. Mas precisa também aceitar o outro como este parceiro (o que não é fácil pelas diferenças que se apresentam).
A partir daí é preciso criar os movimentos, coordenar passos, verificar quais os passos que estão dando certo e os que não estão, fazer ajustes, super obstáculos, criar um estilo para dançar junto, embora ambos saibam dançar muito bem separados.

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