22.2.16

O Olhar que Contempla o Cárcere

É na imagem daquelas curvas retas, que contornam os pensamentos, que a falta de oportunidades toma forma. Assim, um universo inteiro de possibilidades morre de fome. A indiferença veste rosa, amarelo, preto... não por mal, mas por não!
A vida se arrasta, desliza pelo ensaio de porquês, pelas milhares de perguntas sem resposta que você não sabe responder. Por que você nunca está, nunca esteve, nunca foi. São só borrões e distorções.
O cotidiano é feito de diálogos imaginários, supondo poréns, escondendo reféns, maquinando álibis... Uma sequência de discussões infinitas e consequências malditas.
E assim vamos nos acostumando, explicando motivos, justificando ausências, implorando razões, adubando esperanças, esperando a chuva dessa nuvem de tristeza que nos acompanha. Querendo arrancar verdades, delirando possibilidades, colhendo certezas que talvez nunca teremos, palavras que nunca ouviremos, emoções que nunca sentiremos, verdades que nunca saberemos, gostos que nunca provaremos.
A realidade é um tapa na cara, que derruba nossos próprios argumentos entre a mente e o coração. Cheia de fragmentos intransitivos, transitivos diretos e indiretas, espalha pelo tapete do corredor da rotina todos os delitos, julgamentos, amarguras, decepções, intenções, repetições, vergonhas e indecisões.
Vivemos ausências, nos conformamos com o mínimo, com o indigesto, com o dissabor, com o que tem.
A impossibilidade nos faz de fantoches, é um verdadeiro deboche, é crueldade pronta para colocar no diário. É preciso matá-la a força, mas não o fazemos, porque apesar de tudo, a impossibilidade muitas vezes, apesar de inquisitória, nos é confortável.
E no fim, seguimos com esse monólogo platônico a caminho do abismo. E o que fica é a certeza de que tudo que se deixou de viver foi motivo de uma loucura desvairada de obrigações, medos e privações de todos os lados desse cárcere inexplicável e improvável.

3 comentários:

  1. Respostas
    1. ;) Obrigado Raquel por acompanhar todo o trabalho. Bjao.

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    2. ;) Obrigado Raquel por acompanhar todo o trabalho. Bjao.

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