5.9.09

Palmas ao Dr. Manhattan

"...O dia amanheceu cinzento. Os restos mortais de uma barata povoam meu banheiro. As baratas têm medo de mim. Eu vi sua verdadeira casca. O quarto está cheio de sujeira e, quando a arrumadeira aparecer, os vermes vão se afogar. Quando a imundice bater na cintura, as aranhas e mosquitos vão olhar para cima gritando "salve-nos"... E eu vou olhar para baixo e dizer "não". Os insetos tiveram escolha, todos. Podiam ter seguido os passos das formigas. Insetos decentes, nunca invadiriam uma casa. Agora todos estão à beira do lixão, contemplando o zumbido macio das abelhas... De repente, lembrei o que tinha pra fazer..."


Uma história de super-heróis, ou melhor, uma história sobre um grupo de super-heróis aposentados. Um filme sombrio (adaptação dos quadrinhos) com violência explícita e com várias mensagens interessantes.
Como seria o mundo se pessoas comuns realmente decidissem vestir um uniforme cafona e sair por aí fazendo justiça? O Bem e o Mal não são mesmo apenas questão de ponto de vista?
Todos os personagens, os "super-heróis" são pessoas comuns, sem qualquer poder especial; nada de força sobrenatural, vôo, visão de calor ou coisa parecida.
Apenas uma exceção, que é o fascinante Dr. Manhattan.
Sua origem é quase um outro filme: cientista preso num experimento físico morre, literalmente desaparecendo no processo. Ele renasce como um ser quase onisciente e onipresente na forma de um careca fortão azul, levitante e pelado. O cara torna-se deus.
E ele é mesmo diferente, torna-se consciente de tudo o que ocorre no universo, perdendo a noção de passado, presente e futuro – para ele, o tempo é uma coisa só, como imagens entrelaçadas e não como ações interligadas.
Mas ele, o mais poderoso de todos os super-heróis dos quadrinhos, simplesmente desiste da humanidade.
Mas por que uma criatura como ele, quase um Deus, que tem o universo a sua disposição, realmente se importaria com a humanidade?
Alheio às incertezas dos homens diante de sua existência quase improvável, ele cita: "...fui testemunha de eventos tão ínfimos que sequer posso dizer que realmente aconteceram..."
Dr. Manhattan é incapaz de distinguir um ser humano de uma montanha (ambos são um aglomerado de partículas regidos pelas mesmas leis físicas) e ele sabe que o homem é o responsável por conduzir o mundo à beira do abismo. Lembra, quase como filósofo grego, que a racionalidade absoluta pode ser tão destruidora quanto a completa ausência de lucidez.
Ou seja, ele enxerga que o homem por si só não seria capaz de conseguir até mesmo de salvar a si próprio. 
Insetos, humanos como insetos, entrando onde não são chamados, causando destruição, seja em grande escala seja em escala menor, individual.
Ações e reações, despertando ira, ódio, vingança, maldade, mentiras, pecados secretos, egoísmo.
Cada inseto e sua preocupação particular, pior que animais irracionais, movidos por instinto, desgraçando vidas e espalhando o mal. Super-Heróis também são humanos, também são insetos.
Se eles vigiam pelos outros humanos, quem irá vigiá-los? Afinal, também são pecadores...
Um dia olharão para cima e dirão: "salve-nos"... mas alguém dirá: "não!".


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