10.1.05

A Tranquilidade se Consegue em Pequenas Coisas

Acordei um dia e vi que estava errado. Vi que tudo o que queria, era o que os outros queriam que eu quisesse. Vi minha vida desmoronando por correr atrás de algo incerto, por ser teimoso. Vi que minha família realmente se preocupava comigo, que eles só queriam o meu bem e eu não enxergava. Vi que as festas e o glamour não são o que faz uma pessoa feliz.
Acordei e vi que as coisas simples da vida é que trazem felicidade, e que geralmente corremos em busca do complicado, do proibido. Descobri que estar em casa no domingo à tarde é que traz alegria, que acordar com café fresco é que traz disposição.
Vi que meus amigos só me queriam quando queriam alguma coisa, e isso inclui tanto amigos homens como mulheres.
Vi que perdi o único amor verdadeiro que tive...
Notei que meus amigos tinham, na realidade, inveja de mim. Vi que minhas roupas, não retratam o que sou, mas o que queria ser. Acordei e vi que estou feio, acabado, com um rosto horrível. Tudo por que já não durmo direito, não me alimento direito, não amo quem deveria amar.
Vi que as madrugadas de festas são sempre iguais, as mesmas pessoas, as mesmas atitudes, as mesmas músicas, os mesmos amassos. Vi que o que deixei para trás me faz falta, e percebi que não posso ter novamente o que tinha. Estou arrependido. Sinto o gosto amargo de ter que levar em frente uma decisão errada. Notei que não sei ouvir.
Corri atrás de vaidades e perdi a oportunidade de conhecer melhor meus pais, eu não os compreendia, estava cego. Queria fazer o que os outros queriam que eu fizesse. No palco, a luz que era quente me mostrava o inferno que estava vivendo. Comecei a ter pulgas e renite alérgica. O lugar que parecia mágico virou o meu mal. Queimava-me na praia por não haver quem passasse protetor solar em mim, passava frio à noite por não ter alguém para me esquentar. Quando arranjava alguém, esse queria apenas um objeto, eu era usado! Perdi tudo o que era verdadeiro. Troquei tudo por uma pirraça. Corri atrás do vento.
Certo dia acordei e vi na TV uma notícia. Fiquei apavorado. Tudo aquilo em que acreditava ficou para trás. E agora me bate o desespero. Deixei para trás e agora tudo está se cumprindo. Eu sinceramente achava que não iria acontecer tão rápido. Corri atrás de alguma coisa, e perdi minha vida. Do que adiantou? O mundo está ruindo, assim como minha vontade de viver.
Eu estava cheio de vigor, era jovem e achava que podia tudo. Hoje estou mais velho, não compreendo onde coloquei minhas forças e me culpo.
Que saudade das barracas. Do peixe assado enrolado em folhas de bananeiras. Procuro algo. Não sei o que é. Estou sempre com um aperto no peito. Ah! Se eu pudesse voltar atrás!
Descobri que o careta é legal. Que a tranquilidade se consegue em pequenas coisas. Que o mundo é frio, injusto e perverso. E agora nem a minha família se interessa em mim. Minha irmã é feliz, meus pais morreram. Estou só! Ninguém leu o que escrevi. Ninguém percebeu minhas atuações. Meus quadros nunca vendem. Todos queriam meu corpo enquanto jovem. Somente meus amigos, é claro, fizeram algo por interesse. A maioria deles está como eu. Sem família, sem amor, sem paz, sem abrigo, sem brilho, sem palco, sem ninguém. O beijo de todos os outros são amargos. Perdi o único beijo doce que recebi. Minha mãe morreu e eu não aprendi a cozinhar, hoje como tomate com bolacha água e sal.
Tenho uma profissão. Não exerço. Ninguém me leva a sério. Talvez sejam minhas roupas. Eu era tão bonito...
Hoje sou desleixado. Gosto do escuro, do feio, do velho e do que é diferente.
Meu pai me sustentava. Não trabalhava. Era aposentado. Morreu de desgosto. E eu não sei ganhar dinheiro. Quis fazer o que queria e não o que o mundo queria, e acabei perdendo o jogo. Os cinemas perderam a graça. Só vejo filmes chatos que discutem assuntos chatos, geralmente acompanhado de pessoas chatas.
Que saudade dos cinemas no domingo pela manhã. Que saudades dos jantares e dos passeios pelo shopping. Que saudade da minha vida aos banhos de mar. Que saudade do que era verdadeiro e intenso. Acordei um dia e vi que sentia uma enorme saudade!

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