fazer com que cem véus caiam a cada momento.
Primeiro soltar-se da vida
E finalmente dar um passo sem pés.”
A suposta certeza de existir está diretamente ligada a de termos uma base na qual fixar os pés, um local de segurança, uma área que nos dá sensação de proteção.
Então, uma vez seguros, presos, percebemos que não estamos sozinhos.
Existem pessoas nos cercando. E essas pessoas nos concedem qualidades, nos ajudam em suas decisões, por vezes nos dão elogios, nos tornam irresistíveis e especiais, até que você chega ao ponto de se preocupar exageradamente em querer agradar todo mundo.
Percebemos que estamos vivos lado a lado de milhares de pessoas e queremos ser aceitos para continuarmos seguros.
Aí acontece algo diferente. Algo especial. O inesperado. O amor. O amor como você nunca havia experimentado.
E amar de verdade lhe mostra que em nenhum momento da sua vida você esteve em um chão seguro. Era tudo ilusão.
Vem a crise, pois você tem a sensação de que está perdendo algo que na verdade nunca teve.
Todo o resto perde a importância e você já não quer mais agradar ninguém.
Amar te faz abrir os olhos e olhar para baixo, para um penhasco.
De repente te faz andar céu afora, sem porto seguro, desconsiderando referenciais, sem mais certezas absolutas, um colo incondicional.
Você percebe que não precisa mais se desesperar por não ter mais chão: ele nunca existiu. Você não sabia a maravilha que é voar.
Suspenso, seu andar se torna confiante, pois não faz checagens – os pés não buscam mais a solidez. Não há medo de cair já que o chão não mais importa e ele vai ficando cada vez menor.
Você perde o medo da queda, pois a queda só lhe dará a sensação que poderá doer, quando há chão por perto. Sem chão, sem dor.
Andar sem chão tem outro nome: vôo. Ou seja, amar é sair andando seguro e de repente se descobrir voando no perigo.
Mas as coisas mudam! Alguém te fere, te abandona, te magoa, mente, trai a confiança, muda, desiste, gela, te decepciona, não lhe confere mais elogios, te abandona e te faz voltar ao estado normal de ter que procurar novamente um piso.
Ao chegar nesse ponto, você cai!
Ao cair você vai de encontro ao chão, percorrendo o penhasco. Mas dessa vez, ao reencontrar o chão você encontrará a morte.
Por isso, viva como se estivesse morto, sem medo de perder a vida, pois quando aceitamos que estamos mortos, podemos finalmente viver.
Ora, afinal, nunca houve penhasco algum! Nós é que construímos tudo.
Aproveite o vôo que você idealizou e, ao cair, caia de olhos abertos.
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