6.6.09

Como Libertar-se sem se Despedaçar?

A eterna procura do viver bem...
Quantas pessoas não gostariam de trocar o marasmo e a infelicidade eterna por uma aventura? Por que quase sempre deixamos de viver e de procurar a felicidade?
Claro, as respostas podem até ser óbvias, mas não são fáceis. Da teoria à prática há mais armadilhas do que se possa imaginar. Tentações, dúvidas, provações e o medo de trocar o certo pelo incerto. Mesmo sendo o certo, errado. No final, cabe ao desajustado falar e indicar o óbvio.
Esse é plano de fundo do filme "Não foi apenas um Sonho" que eu sugiro que você veja.
Depois do Titanic eles voltaram (Kate Winslet e Leonardo Di Caprio) para nos fazer pensar no que seria uma vida boa. Essa discussão toda não é novidade, isso já por muitos anos é discutido e é tema onde grandes filósofos como Platão, Aristóteles, Kant, Nietzsche e outros discutiram. Pelo menos um elemento foi comum à maioria deles: “Seja você mesmo!”. E como é difícil ser você mesmo....
"Somos como todos os outros, estamos igualmente iludidos. Nossa existência nesse lugar se baseia na premissa de que somos especiais, mas nunca fomos especiais ou destinados a nada. Não somos superiores aos que nos cercam. Caímos na ridícula ilusão de que devemos desistir da vida no momento em que temos filhos e viemos nos punindo mutuamente por isso."
Bem, com essas palavras, April Wheeler (Kate Winslet) reflete que ela e o marido caíram na arapuca que casar e ter filhos pode se tornar.
Daí então ela sugere a seu marido, Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio), uma mudança drástica: tirar o dinheiro do banco, vender a casa e o carro e ir morar em Paris. Frank largaria o emprego que detesta e April trabalharia para sustentá-los e dar a chance ao marido de ter o tempo e a liberdade de descobrir seus talentos e desejos para então exercê-los e viver a vida que quer. Frank primeiramente acha a ideia irrealista, mas depois é convencido pelo argumento da esposa de que irrealista é um homem inteligente trabalhar anos a fio em um emprego que não suporta, morando numa cidade que não aguenta, com uma mulher que também odeia essas mesmas coisas. E então o primeiro grito de "acorde!" foi dado.
Mas, “sentir verdadeiramente as coisas”, ser dono do próprio tempo, ganhar a liberdade são muitas vezes substituídos pelo medo. Medo de fracassar frente ao projeto de viver “bem”, medo de viver como se deseja. Medo de tornar-se quem realmente se é. Seja bem vindo!
Normal de muitos nós é o fato de um dia já termos experimentado e termos vivido de verdade. Mas sem nos apercebemos acabamos entrando numa vida de mentira, anos de mentira, mas nunca nos esquecemos da verdade, apenas aprendemos a mentir melhor e a dizer que se nossos filhos estão bem e vão ter vida boa, então tá tudo bem.
Como então libertar-se sem se despedaçar? (How do you break free without breaking apart?) é a pergunta que serve de subtítulo ao filme. Desconstruir as ilusões que nos acompanharam por tantos anos e livrar-nos dos hábitos (que muitas vezes nem mesmo nos dão real prazer), mas que são seguidos por todos ao nosso redor, não é nada fácil. Ficamos como que enrraizados e não passamos a enxergar mais o ambiente o qual estamos inseridos. Apenas vamos fazendo, vamos vivendo, vamos comprando coisas, vamos usando pessoas, vamos comprando carros, vamos comprando casas, vamos mentindo uma felicidade. Até quando? Vamos esperar pela depressão?
No final Frank desiste do sonho e April, ao seu modo, desiste com ele… e dele.
Casamentos terminam por muito pouco, mas no filme o motivo da separação foi (break apart): o modo de pensar e a visão de mundo tornarem-se incompatíveis.
E assim segue a vida, uns se conformam e esperam a morte chegar e outros vêem a exigência urgente de libertar-se e de tentar não se despedaçar nesse processo, ainda que tal tentativa possa estar fadada ao fracasso.

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