8.11.08

Magnolia

Final de semana passado assisti o filme Magnólia de Paul Thomas Anderson.
Muitas foram as pessoas e os amigos que condenaram o filme como sendo louco e indefinido em função das muitas coisas que nele acontecem. Para estas pessoas, o filme é ilógico e até mesmo insuportavelmente surreal.
O clímax da loucura acontece, sem dúvida, a partir do momento em que os personagens da história são surpreendidos por uma intensa chuva... de sapos! Isso mesmo sapos!
Logo depois que assisti ao filme, interpretei a chuva de sapos como significando o 'acaso'.
Como significando aquele fator inesperado que pode alterar o curso da vida de qualquer pessoa: um acidente, uma briga, a descoberta da infidelidade, uma nova paixão, a descoberta de uma doença, um pneu furado...
O que me levou a esta conclusão foi a seqüência de abertura do filme, que abordava as incríveis coincidências que ocorriam a todo instante por todo o planeta. O infortúnio. O mero acaso.
Não contente com minha análise, foi buscar na internet outras opiniões e significados. E eis que a partir desses estudos, encontrei a minha própria explicação, mais convincente, impressionante, simbólica, modesta e impressionante.
A pista inicial para o significado do filme, partiu da observação de um curioso cartaz na cena em que o programa de Jimmy Gator está prestes a começar. Carregado por um membro da platéia do show, o cartaz traz a inscrição 'Êxodo 8:2'.
Uma consulta à Bíblia revela o seguinte versículo: “E se continuares a negar-te a mandá-los embora, eis que ferirei com rãs a todo o teu território”.
Mas mandar quem embora? E viu como agora começa a fazer todo o sentido a chuva de sapos no final do filme?
Assim a minha primeira impressão de acaso é substituída por 'intervenção divina'.
Também os algarismos 8 e 2 e estão presentes ao longo de toda a trama (isso eu não tinha percebido). Uma sutileza supreendente! Alguns exemplos: na lateral do avião que apaga o incêndio na floresta, no formato de uma corda localizada aos pés do jovem que salta do prédio, nas cartas distribuídas pelo homem que viria a ser atirado no alto da árvore, no letreiro que diz 'Probabilidade de chuva: 82%' e assim por diante...
Lembra-se do garoto que canta rap? Lembra quando ele canta numa das músicas: “Quando tudo se complica, Deus faz chover”? Pois é...
Segundos antes da chuva de sapos acontecer, todos os personagens do filme atingiram seus próprios limites: Donnie Smith está prestes a ser preso por Jim (que, por sua vez, acaba de perder Claudia); Jimmy Gator resolve se matar depois de confessar para Rose que molestou a filha; Stanley se isola na biblioteca para fugir da opressão do pai; Frank passa pelo conflito de ver o pai (que pensava odiar) à beira da morte; e, finalmente, Claudia se entrega novamente ao vício. Todos parecem perdidos, solitários e tristes. É então que Frank T.J. Mackey grita para o pai: 'Não se vá! Não se vá!'.
Em resposta ao pedido de Mackey, a chuva começa e, de certa forma, traz a redenção para todos: Donnie é atingido por um sapo e quebra os dentes (o que finalmente o leva a compreender sua própria capacidade de amar - além, é claro, de agora realmente precisar de aparelho); Claudia se reencontra com a mãe; Jimmy não consegue se matar, atingindo o aparelho de televisão (outra interessante metáfora, já que sua vida na TV o levou aos excessos que o condenaram); Frank e o pai se reencontram pela última vez (Earl acorda com o barulho da chuva); Kurring decide procurar Claudia ao recuperar sua confiança (e sua arma); e Stanley decide pedir ao pai que o 'trate melhor'.
Assim, minha conclusão é que TUDO simplesmente pode acontecer.
Não há como fugir, negar, comprar o inevitável. Há, sim, como ignorá-lo, mas o preço geralmente é alto, pois não existe mentira tão perfeita que engane a si mesmo.
Inevitavelmente, tudo acontece porque tem que acontecer. Inclusive os nossos erros!
Todos erram, por medo, tolice ou gosto. E apesar de todos saberem que errar é humano, ninguém quer assumir que errou, preferindo que a dor o consuma vorazmente num primeiro momento para, num segundo, ficar observando até onde o inevitável consegue chegar sozinho. Em Magnólia é assim! Os personagens vivem fugindo de alguma coisa que os persegue persegue persegue até que, num momento de auto-percepção descobrem: estão fugindo de si mesmos e são incapazes de apagar seus erros, e o passado.
Os personagens, assim como todos nós, estavam presos ao passado! Num trecho significante o filme diz - e explica-se: "O passado saldou suas contas conosco, mas nós não o deixamos para trás".
E aí a grande sacada: o que devemos deixar ir embora são o passado, os medos, a angústia, o sofrimento pelo acaso e por acontecimentos que simplesmente podem acontecer e mudar a nossa vida. Por que se não, com certeza haverá a interferência divina da libertação.
Mas apesar de falar de erros, o filme pega pesado no fato de inexistir dentro de nós o maravilhoso dom de se perdoar e perdoar a outros...
Coisas diferentes simplesmente acontecem, a toda hora. Filmes maravilhosos assim, não.



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