Equilibrar-se nunca é fácil. Há sempre um lado nosso que tende a ir, ou para a esquerda, ou para a direita, ou ainda de encontro ao chão. Igualar dois pesos de uma balança também não é. Quase sempre a emoção é mais pesada que a razão.
Não costumamos aceitar, mas nos falta capacidade de atribuir pesos às coisas, e assim fica cada vez mais difícil segurar tudo e ainda assim conseguir se manter de pé.
E uma vez no chão, descobrimos que a adversidade, as situações ruins e as decepções são como um longo vento forte. Pois não só nos afasta de lugares onde poderíamos ir, nos empurra para trás, mas também quase arranca tudo de nós. Tudo menos as coisas que não podem ser arrancadas, nossa essência, nosso ser, aquilo que está impregnado na nossa pele, nosso coração, aquilo que importa.
De modo que só depois do vento, nos vemos como realmente somos, com aquilo que realmente nos pertence.A adversidade leva o que era leviano, falho, irreal, a fantasia.
Nem sempre escolhemos o lado que vamos cair, nem sempre acertamos a direção. Nem sempre acertamos a hora. Nem sempre acertamos o que queremos de fato pra nós. Nem sempre precisamos carregar tudo. Dividir escolhas é reduzir o peso. Reduzir o peso é facilitar o equilíbrio.
Mas dividir com alguém errado é cair de cara nas lembranças daquilo que poderia ter sido. É não pegar pela mão quando se quis. É ter de esconder as mãos quando não queria largar. É não ter permitido o toque. É não se permitir. É ter desejado e não se deixar.
Não dividir escolhas é se tornar bons amigos. É caminhar para evitar. É deixar espaço, abismo, um grande vão. É rotular a saudade com aquilo que não foi. É fantasiar que poderia ter valido a pena. É deixar a queda escancarada demais.
O chão nos mostra que não basta uma foto, um restaurante, meras palavras. Não bastam roteiros impossíveis, não bastam os melhores abraços e os melhores beijos. No chão precisamos de apoio, de uma mão, o retorno ao tão perseguido equilíbrio. O chão nos mostra que precisamos daquilo que não partiu com o vento.
Enquanto passamos a vida a medir coisas e pessoas, às vezes as coisas que mais queremos, não acontecem. E às vezes as coisas que jamais esperaríamos nos acontecem. E aí passamos a saber muitas coisas...
Saber pode ser uma maldição na vida de uma pessoa. Porque um dia vamos querer trocar um pacote de mentiras por um pacote de verdades, e não aceitaremos saber a resposta do qual é mais pesado.
Depois que se conhece o peso da verdade, não se pode voltar e pegar o pacote de mentiras. Mais pesada ou não, a verdade passa a nos pertencer e prejudica nosso equilíbrio.
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