14.12.08

O Clube da Luta

“Eu vejo aqui os homens mais fortes e inteligentes.
Vejo aqui todo esse potencial. Desperdiçado. [..]
A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas.
Trabalhar em empregos que odiamos para comprar coisas que não precisamos.
Somos uma geração sem peso na história.
Sem propósito ou lugar.
Não temos uma Guerra Mundial.
Não temos a Grande Depressão.
Nossa Guerra é a espiritual.
Nossa Depressão, são nossas vidas.
Fomos criados através da TV para acreditar que um dia seríamos milionários ou famosos. Mas não seremos.
Aos poucos tomamos consciência do fato.
E estamos ficando muito, muito revoltados."
É eu também gostei. Sempre gosto de filmes que trazem mensagens fortes. E com o clube da luta não foi diferente.
Jack (Edward Norton), o personagem principal, tem um bom emprego, financeiramente estável... mas sente-se vazio, nunca consegue dormir e reza para que qualquer coisa diferente aconteça, como algumas tragédias, na sua vida medíocre.
Jack é um executivo que tem uma vida extremamente monótona, baseada apenas na idéia do consumismo (móveis, carros, dinheiro, seu apartamento e outras coisas materiais). Angustiado com seu “american way of life”, Jack sofre de insônia. Encontra a solução para seu problema em grupos de auto-ajuda. Ali, ele descobre o verdadeiro sofrimento e se afasta de seu stress existencial. Logo, Jack se sente mais relaxado e consegue voltar a dormir. Mas, durante mais um vôo a trabalho, ele conhece Tyler Durden (Brad Pitt) que o tira de sua vida inerte e juntos acabam fundando o clube da luta, um lugar secreto onde homens se reúnem para extravasar suas angústias e frustrações através da briga.
Mas afinal, quantos murros são necessários para sabermos que estamos vivos?
Estamos todos escondidos nas cercas que construímos envolta de nós mesmos, cercas de pseudo ideologias, de pseudo comportamentos. Aceitamos uma realidade dentro do nosso próprio clube da luta interno.
No caso de Jack a princípio bastou um abraço em um doente de câncer e ou chorar no ombro de um tuberculoso para se sentir vivo ou potencialmente próximo da morte. Mas depois descobriu algo melhor, descobriu o clube da luta.
Pode ser chocante, de início, um clube da luta. Mas violência é apenas bater? Não existe a violência reativa e passiva?
Receber a proposta de um modo de vida único, aceitar as regras de uma sociedade sem regras, macular a vontade de existir escondida dentro da simbologia de uma cultura pobre e desgovernada nos leva a dizer que a violência simbólica talvez seja mais intensa e cruel que a violência nua e crua. Não concorda?
Brilhante a frase decorrente: “quando não se tem mais esperança é quando se está totalmente livre” ou “quando se perde tudo é que se está totalmente livre”. Hoje somos a sociedade do ter! Mas diferente do que se pensa, são as coisas materiais que nos mantêm reféns. E ao nos livrar-nos delas, estamos mesmo livres!
Jack fez - negou o ter pelo ser após perder tudo. Ao deixar de ser escravo dos seus móveis, da moda, dos eletrodomésticos, do apartamento, do consumo, negou uma herança cultural e mostrou o nosso atual e cruel darwinismo social. E assim, junto com Tyler, planejou os atos de vandalismo e terrorismos contra a sociedade de consumo (quebra de obras de arte, pichações, explosão de computadores, colocando bombas em dez prédios e etc). Medidas desesperadas que nos levam a pensar que a verdadeira liberdade seja mesmo um mito pelo qual devemos sempre buscar, pois enquanto fizermos isso vamos manter os nossos olhos abertos, negando e assumindo a nossa existência em busca de uma consciência coletiva benéfica, que permita a transgressão sem fanatismo, que considere uma vida em equilíbrio, que codifique e decodifique nossa personalidade admitindo a mistura, ou seja, que todos nós possamos continuar a ter um pouco Tyler Durden dentro de nós sem deixá-lo no controle. Mais um filme que recomendo!!

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