Existir é camuflar. É fazer alguma coisa e, ao mesmo tempo, pensar que ninguém mais está sabendo disso, e provavelmente ninguém jamais vai saber.
É ter duas vidas: uma evidente, que aqueles que acham isso importante veem e conhecem, uma vida cheia de verdades convencionais e de mentiras convencionais, exatamente igual à vida de nossos conhecidos e amigos; e outra vida que transcorre em segredo, obscuro do nosso íntimo, da nossa cama.
Viver é cavar poço fundo. Quase tudo o que é para nós relevante, interessante, indispensável, aquilo que é para nós sincero e não engana a nós mesmos, que constitui a essência da nossa vida, não é do conhecimento das outras pessoas. E tudo o que é mentira, máscara, casca, na qual a maioria se esconde, serve para encobrir nossas verdades mais profundas... Enquanto isso, a vida rotineira, corrida, cotidiana, de aparências transcorre às claras.
Privacidade é ter o que esconder. Mentir é ter medo de câmeras.
Julgamos os outros por nós mesmos, não acreditamos na intuição, supomos sempre que cada pessoa, sob o manto do segredo, assim como sob o manto da noite, esconde a verdadeira vida, a mais interessante.
Cada existência pessoal sustenta-se no segredo, e talvez por isso que nós, sob todas as forças, a todo preço, nos preocupamos tanto, com o mínimo de nossa privacidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário