Costurando trapos. Lembrando dos dias doces, das atitudes inesperadas, de sentimentos.
Tornando-se especialista na arte dos remendos. Pois um dia alguém olhou fundo, mergulhou retina adentro, e só não caiu por que segurou nossa mão com firmeza. Deslizou os dedos entre os nossos, um dia fez uma medição de mãos.
Juntando retalhos. Querendo de volta carinhos cúmplices, o estar pertinho, o esbarrão intencional, o sentar do lado, as juras que não podiam ter existido. Querer os convites para jantares que nunca aconteceram, festas, chegadas e partidas. Um simples café da manhã que nunca teve.
Balançando o pó. Reparando na imagem congelada dos detalhes, expressões, sorrisos e medos que se passaram. A fotocópia da expectativa criada é a necessidade.
Bordando assuntos. Um dia alguém lhe deu mais a entender do que poderia te dar. Um beijo que marcou uma música. Uma decepção que marcou pra sempre a vida. Matando sorrisos quando se lembra da saudade, sentindo o gosto das lágrimas onde o amor se afogou. Uma frase que nunca virá, uma vontade que se foi a muito. Diz que não precisa e que não quer de novo, muito menos logo. Nos tornamos um molde para uma peça que ficou só na imaginação.
Fazendo o ponto do silêncio. Longo, dolorido, irreal, destruidor. Amor ferido pela paixão branca, que rasga fundo. Não respondendo mensagens, não respondendo perguntas, não dizendo mais uma única palavra que lhe interessaria. Uma linha frágil. Não foi para sempre. Não era para acreditar tanto. Não era para ser exatamente como se imaginou. Não era para ser tudo o que sempre quisemos.
Costurando trapos. O gosto empoeirado de pensar em alguém e não deixar que saiba isso. A falta de ar momentânea, a dificuldade que não agüentamos mais. Então, baixinho, recortamos o pensar, o de lembrar e tiramos dos olhos. Mas o pano velho nos lembra todo dia. Cheio de pó e esperança, fica lá, no canto, o símbolo de que lembramos todo dia de quem fez questão de nos esquecer. Guarde-o e não fique mais torcendo para que algo incrível aconteça, algo não planejado, algo arranjado por forças maiores. Isso é ferimento com agulha, só decepção. Não era sua vez e não era a hora de alguém. E agora o tempo passou.
Tem dias em que a gente deve acordar e simplesmente entregar a agulha para que o esquecimento vá costurando os anos.
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