6.8.11

Não Adianta Jogar e não Abrir o Jogo

Alguns dias de choro, dois comprimidos de dramin e um mergulho para dentro de si mesmo.
Ter momentos desagradáveis na vida é conseqüência de uma série de fatos e eventos que se sucedem onde nós, muitas vezes por inexperiência e vivendo um delírio, tomados por emoções desconhecidas, acabamos tomando decisões equivocadas uma atrás da outra.
As decisões são erradas, porque o nosso maior e mais significativo erro é fazer suposições sobre as coisas, sobre as pessoas. É imaginar que o outro pensa como nós e a partir daí passar a acreditar em sentimentos falsos, ter expectativas altas, duvidar de si próprio e esquecer que as pessoas são estranhas e diferentes.
Por melhores que sejam nossas intenções, uma hora desaba o castelo de cartas, o castelo de areia.
Às vezes você não dá valor ao que te aparece de repente, a um presente. Nós não o enxergamos como tal por que nunca entendemos o sentido da vida e como ela pode ser surpreendente.
Por estar assustado e com medo, erramos ao se afastar um tempo. Achando que é boa colocar as idéias, sentimentos, medos e causas em ordem. Questionamos nossa vida, nossa rotina, nossa condição.
A vida lhe dá esse presente, que lhe proporciona perguntar se está realmente feliz com a vida atual.
Algumas coisas que acontecem, não aparecem com manual de instrução, você não encontra explicação e por isso se afasta a procura de respostas. Afinal, você precisa encarar a si mesmo, suas crenças, sua vida.
Mas você não comunica isso. Não deixa ninguém e nem o outro saber. Se esconde dentro de sentimentos negativos. Os outros, o alguém, o outro sofre.
Com isso o outro duvida, escolhe fechar os olhos e considerar que não valemos a pena. Mas não era a nossa intenção! Agimos por instinto, protegidos pelo medo daquilo que está causando um enorme emaranhado de emoções diferentes, nos transformando.
O alguém, a outra situação, ou alguma outra coisa não esperava isso de você. Pois o desejo de posse é imediatista. Eles te queriam disponíveis e não dentro de uma redoma invisível, protegida por crenças, cultura, pressão social, medos e valores distorcidos.
Aí começa o sofrimento generalizado. Tudo que começa assim começa errado e termina errado.
Qualquer relação que se inicia nesses moldes, já inicia conturbada. Ocorre um desencontro de motivações, interesses, vontades e desejos. E sempre alguém irá sofrer. Aí entra-se naquele jogo de jogar o sofrimento para o colo do outro o mais rápido possível. Se o outro sofre, eu não sofro. Se o outro não sofre, você sofre. O orgulho fala mais alto, a vantagem de ficar junto já não é sentida.
No meio desse sofrimento aprendemos a ser humilde. Afinal, humildade é a vara que dá equilíbrio na corda bamba da vida.
Aprendemos a ser humildes para reconhecer que nem sempre vamos ser a coisa mais importante na vida de alguém. E que nem sempre vamos ter TUDO o que queremos, da MANEIRA que queremos, no EXATO momento que queremos.
É bom saber que apesar de em certos momentos termos a auto-estima elevada e achar que temos a situação sobre controle, nada pode alterar o que alguém ou o outro sente e pensa. As coisas podem mudar e podemos nos tornar carta fora do baralho, mesmo sendo o presente mais maravilhoso que alguém poderia ter.
Mas, lá na redoma, achávamos que tínhamos todo o tempo do mundo para se encontrar e quando resolvemos sair, não encontramos mais ninguém, nem mesmo você nós mesmos.
Aí perdemos o chão, a base, o sentido de tudo. Não nos reconhecemos, não sabemos mais no que acreditar, não vemos mais alegrias nas decisões, provamos o gosto amargo do arrependimento, e vestimos a cor do rancor, da indifirença, do ódio e do esquecimento.
As pessoas não tem todo o tempo do mundo, e as suas vidas seguem. Nosso egoísmo imaturo emocional nos faz perder situações, momentos e pessoas importantes na vida. Ficamos para trás e o preço para sair do fundo do poço é bem alto. Porque estaremos sozinhos nessa.
E o arrependimento não traz nada de volta. Já foi. Somos descartados.
Pensamos demais, achamos demais, nos achamos demais, e demos tempo para um outro pensar demais.
De repente estamos por aí, uma verdadeira anomalia, um desastre, um acidente. Percebemos que não fomos nada e não sentimos nada que era de verdade. Uma anomalia, uma ilusão, que hoje não tem amizade, não tem amor, não tem sentimentos, comprometimento, empatia, companheirismo. Não temos mais ninguém que se importe realmente.
Ficamos muito tempo destruindo nosso mundo interno, acabando com coisas que acreditávamos enquanto, sem querer, matávamos todas as outras possibilidades da vida. O outro ou o alguém não te entende. Não houve comunicação, somos todos egoístas e imediatistas. E não adianta mais explicar quando o outro está decidido a não mais entender.
O tempo fez o outro querer voltar atrás, ler jornal lido, voltar para o lamaçal após estar limpo, querer de volta aquilo que por tanto tempo lhe fez mal, remexer velhas lembranças, ter medo da sua escolha, paralisar diante de um novo convite.
Na verdade, ninguém escuta ninguém. Ninguém é 100% sincero e verdadeiro com ninguém. Isso porque não podemos fazer isso. Ninguém está preparado, e assim todos desistem.
A nossa vida não precisava ser zero ou oitenta. Mas fomos educados dessa maneira. Somos treinados assim. Criaram-se milhares de regras que fazem com que as nossas escolhas não sejam realmente livres. Entre o risco no prazer e a certeza no sofrer, acabamos sendo socialmente empurrados para a última opção. Não somos preparados psicologicamente e maduros o suficiente para aceitar que a vida pode ser diferente, que nossas escolhas podem envolver TUDO o que um dia lhe tirou o fôlego e fez nosso coração parar alguns segundos.
Agora é isso aí. Todos presos a um sentimento que não desaflora. O não acaba sendo a resposta mais segura e todos vivem a ilusão de estar vivendo uma vida ideal. Não se falamos mais, não se olhamos mais, não se agüentamos mais, não acreditamos mais, não temos mais força e saco para começar qualquer outra coisa.
O que falta é coragem para reavivar o que um dia foi grande. Falta deixar o orgulho de lado e recomeçar a conversa. O problema sempre é a conversa. Falta dar o primeiro passo para discutir as regras do jogo. Não adianta querer jogar sem querer abrir o jogo. Falta maturidade para se conhecer e entender que a vida pode ser uma coleção de variáveis e não apenas uma equação definida a um, alguém, lugar, credos, desejos e vontade.
Não se engane novamente. A gente nunca aprende. Vai querer viver tudo de novo um dia, pois o nosso presente é insatisfatório, por que fazemos da nossa vida insatisfatória.
As pessoas começam realmente a viver quando encaram a morte, seja ela física ou emocional. E quando conseguem passar por isso, se tornam outros, transformados, um estado que jamais voltará a ser normal.

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