7.1.11

Coração Masoquista

“... E entáo o leão se apaixonou pelo cordeiro. Que cordeiro idiota. E que leão idiota e masoquista...” (Crepúsculo)


Leopold Franz Johann Ferdinand Maria Sacher - Masoch teve seu nome associado a um tipo especial de perversão sexual, fato que o imortalizou e o banalizou em todos os idiomas do mundo. Foi dele que se originou a palavra masoquismo, que se tornou sinônimo de prazer obtido pela dor e sofrimento.
Mal sabia Leopold que ele poderia vir a se tornar o pai de inúmeros corações masoquistas muitos anos mais tarde. Corações que sofrem calados. Situações que não mudam.
Geralmente os sintomas mais comuns de um coração masoquista começam com a falta de atitude, muita paciência, vontade de falar que fica só na vontade e o medo do que se possa ouvir.

“Quando você está solteiro, vê todos os casais felizes. Quando você está em um relacionamento, vê todos os solteiros felizes.”

E o coração masoquista se aflora nas duas situações possíveis: enquanto se é solteiro e enquanto parte de um relacionamento.
Nesta última situação a pessoa se vê impedida de dar um basta naquela relação meia-boca que já se leva algum tempo. Idas e vindas, términos e voltas...
É tudo mais ou menos: a viagem, o cinema, a transa, o jantar romântico, as piadas e o companheirismo. Quando o casal começa a procurar muito os amigos é porque no fundo já não se aguentam. E com isso a frustração agradece. E você sabe que por mais que aconteçam coisas, nada é por inteiro, e por mais que você faça, ele(a) não se entrega totalmente aos seus cuidados. Uma relação superficial, baseada na aparência e na falsa sensação de felicidade. Mas para que mudar né? Isso é o que diz o coração masoquista! E como ficariam as famílias, os amigos em comum, o que já foi construído? Se você acha que está bom assim, acostume-se a ser opaco, conforme-se com sua insônia, continue destruindo sua auto-estima, acabe com sua personalidade, aniquile seu futuro e aprenda a desdenhar da felicidade. E a coisa toda vicia! É como se você conseguisse tirar prazer do sofrimento e não conseguisse tomar uma atitude. Sofre por não saber se está pronto(a) para pular fora dessa relação, se encontrará alguém que o(a) satisfaça, se sofrerá muito ou pouco pela dor da perda que você mesmo(a) provocou.
Sei, você acha que falar sobre o assunto pode piorar as coisas? Estou incomodando? Lembre-se do seguinte: Numa relação amorosa, a gente só releva mau humor, preferências e problema de saúde. Não se pode relevar sentimento! Falta de sentimento! Ninguém se doa sem esperar nada em troca, é assim e ponto final. Pense bem, que bela contribuição esse indivíduo que está ao seu lado está dando para a sua vida. Está mesmo contribuindo?
Depois vem o efeito colateral do seu vício, a culpa por ser inseguro(a), covarde, sem personalidade para pôr um ponto final às reticências que estão ali há anos. Quem não se doa é egoísta, vendo a relação como uma via de mão única em que sempre é tempo de se satisfazer, e retribuindo qualquer coisa ao outro. Quem não se doa é porque não ama. E não consegue ver a própria ausência nessa relação. É movido a momentos, sejam eles de carência, para massagear o ego ou quando é surpreendido(a) por alguma surpresa. São esses momentos de pseudofelicidade que confundem você e prolongam as horas em dias e os meses em anos de singela e inocente espera por emoções completas. Preferimos o alicerce, a muleta, a migalha, o pouco ou quase nada. Essa fome não passa, a sede será constante, diária, infinita e vai desnutrindo aos poucos, com requintes de crueldade e dominação. Você assiste à própria destruição de forma lenta, sem precisar se olhar no espelho, sem que alguém lhe diga. Nada impede a deterioração psicológica se você tiver um coração masoquista enquanto parte de um relacionamento.
A primeira situação a de estar solteiro também pode estar cheia de armadilhas. Ninguém consegue controlar a paixão, o sentimento e o desejo. Nesse cenário o coração masoquista te faz apaixonar pelo impossível, pelo difícil, pelo inacreditável, pelo proibido. Não existe crueldade pior no mundo do que amar em silêncio, querer e não poder, ver e não tocar, cheirar e não poder sentir. O olhos, serviçais do coração masoquista, perseguirão o proibido. Os pensamentos te levarão para perto dele. Sua vida é tomada por um sentimento de impossibilidade e tristeza profunda. De repente você é totalmente escravo das músicas, dos filmes românticos, dos sonhos, das possibilidades que nunca existiram, de um amor masoquista não correspondido. E não consegue, por mais que queira, sair dessa.
E por vezes, quando o amor parecer ser finalmente correspondido, seu coração masoquista se assusta. Acostumado com o sofrimento, não o faz enxergar a verdadeira felicidade que um amor de verdade é capaz de proporcionar. Para continuar no sofrimento, ele expulsa!
Pior do que viver à mercê de um coração doente, é amar o que nunca existiu e quando tudo torna real, dispensá-lo.

3 comentários:

  1. pra um escritor de final de semana e administrador esse texto me caiu como 20 sessoes de terapia....o dificil vai ser achar a cura...nao sou feliz com essa triste realidade de ter um "coração masoquista"...como bem me identifiquei no momento...detalhe...achei o texto porque resolvi procurar uma frase que me ocorreu "se apaixonar é uma forma poetica de masoquismo"...valeu!

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  2. Puxa Carolina! Que legal que gostou do texto e que lhe foi útil de alguma forma em seus questionamentos. A vida é assim mesmo, nem sempre as coisas saem da forma como gostaríamos, principalmente em se tratando de questões do coração. Mas tenha isso como uma preparação para algo maior que ainda está por vir. Por isso paciência... Mais uma vez obrigado, são comentários como o seu que me fazem seguir adiante com o blog.

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  3. É Luiz, realmente gostei muito dos seus textos, depois fiquei a ler vários outros e são assuntos que reflito bastante. Acredito muito nos propósitos dos acontecimentos, se é assim, que assim seja...mas sem conformismo...incômodos e "baixa de astral" são bons pra motivar...penas que nem todos pensam assim...enfim...continue com os textos mesmo, parabens!

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