E a gente não para
de sentir, nunca paramos, é impossível depois de certo tempo. É automático, é o
efeito da droga mais potente e destrutiva que já existiu, morremos mil vezes, reduzidos a nada sempre, e
acabamos gostando cada vez mais disso.
Totalmente abstinentes de melancolia, estar contente parece uma
tarefa árdua e quase impossível. Pois, depois de tudo posto, o que sobra é o
sentimento de que apesar de inseridos em um contexto, nunca quisemos nada com tudo isso, e acabamos nos tornando autores daquilo que não é, não foi e nunca será nosso.
E no meio dessa confusão sem nome e nem endereço, vez ou outra, o chacoalhão aparece. Seja em forma
de decepção, seja uma visão, seja uma palavra dita, seja uma palavra não dita, ou na forma de um mundo todo que
passa a se apresentar para nós em tons pasteis.
A melhor recompensa que temos dessa coisa que aparece para chacoalhar nossa vida,
é ela ter aparecido. Principalmente aquele momento que mostra o que não é,
desmistifica uma situação, quebra uma verdade, sacode uma estrutura, desfaz uma
ilusão nos permitindo pequenos vôos...
Não é por amor, não é por paixão, é por questão. É por necessidade de
continuar navegando pra qualquer direção que nos traga um propósito. É algo que
ultrapassa a própria razão.
Restabelecidos pós movimentos, voltamos para terra firme e nos permitimos outra vez, e outra vez, outra vez.
Enquanto isso a levianidade e a aparência aliviam o sufoco, é o que alimenta
nossa máquina de centrifugar a rotina.
Estar sempre à
espera requer mais paciência do que alma. Alma é apenas marionete do sentido. A brevidade da alma passa a não fazer diferença quando passamos a encarar a
realidade que não tínhamos. Pois passando por isso, outros se tornam apenas
outros, coisas apenas coisas e situações apenas diversões.
Transformados, atingimos um estado que jamais
voltará a ser normal. Acontece sempre, pois as movimentações da vida nunca são
lineares.